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Arquivo da categoria: Política

Resenha: 1889

1889Quando 1808 e 1822 foram lançados no mercado editorial brasileiro, o sucesso foi imediato. Os livros ficaram entre os mais vendidos até hoje. Não foi à toa: Laurentino Gomes fez árduas pesquisas para brindar o público com informações dantes desconhecidas pelo grande público e por que não dizer de historiadores profissionais. Naturalmente recebeu críticas de outros jornalistas e acadêmicos, acusado de querer reescrever a história do país e fazer da “história oficial” um jogo de cartas marcadas.

Com 1889 não foi diferente. Agora Laurentino conta a história dos tempos da nossa Proclamação da República. Quem foram os personagens, antecessores e sucessores, principais e coadjuvantes, que fizeram com que a monarquia mais sólida da porção sul do planeta se desconstituísse em apenas um dia. Claro que os desejos latentes dos republicados pulsavam há muito mais tempo e não se podia esperar nada além do que espadas desembainhadas dos militares.

O Exército sem dúvida foi o principal responsável pela mudança de forma de governo. Foi na Escola Militar de Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, que o mentor intelectual da mudança, Benjamim Constant, ensinava aos alunos as bases de uma república, a falência de uma monarquia e a necessidade da mudança de paradigma. Muitos foram os incidentes envolvendo o corpo discente dessa academia. Em celebrações, já eivados pelo espírito republicano e pelos ensinamentos de Augusto Comte, não batiam continência aos superiores que amavam a monarquia e que juravam fidelidade eterna a Dom Pedro II. O imperador, que tinha a Marinha como fiel companheira, subestimava o poder que a Escola tinha. “Conheço os brasileiros, não vai dar em nada”, costumava dizer. A filha dele, Princesa Isabel, foi alvo de elogios e críticas: Ora porque abraçava a libertação dos escravos e ora porque era a sucessora natural do pai, e além de ser muito conservadora e religiosa, era casada com o Conde D´Eu. “Não podemos deixar que o país seja governado por uma carola de direito e de fato por um estrangeiro”.

O início da república no Brasil não foi fácil. A família real fugiu às pressas de forma constrangedora: de madrugada, fazendo o mínimo de barulho, sem se despedir dos súditos. Havia entre os republicados aqueles que desejavam fazer uma mini-revolução francesa por essas terras, cortando a cabeça de Dom Pedro II e companhia. Proclamada por Marechal Deodoro da Fonseca, a nação ganhou ares de “agora tudo vai dar certo”. Todos os males que nós tínhamos eram culpa dos portugueses que fundaram o país. Nada foi considerado à Mornarquia, nem mesmo a fundamental unidade territorial e linguística. Muitas foram as contradições ideológicas nos primeiros anos. Se a Família Real concedia títulos de nobreza aos ricos em troca de apoio político e financeiro, na nova república latina, títulos de cunho republicado eram trocados por apoio político e financeiro também. Se durante os tempos monárquicos os intelectuais, opositores e jornalistas gozavam de plena liberdade de expressão, com o segundo presidente, Floriano Peixoto, a coisa foi diferente. Jornais foram fechados e quem era contrário à república, quem indicasse o mínimo de arrependimento por ter acabado com a monarquia, era pressionado a calar a boca ou até mesmo preso. Floriano, antes de entregar o cargo ao primeiro presidente civil, Prudentes de Moraes, cortou a cadeira em que trabalhava e fez uma mudança quase por completa dos móveis da residência oficial, indicando que o espírito republicado que pousou em terras tupiniquins não estava preparado para a sucessão.

A Proclamação da República foi mais um daqueles atos nos quais o povo não participou, se o fez, foi de forma mínima e já no final da corrida, devidamente influenciado pela mídia e pelos intelectuais. Tanto é verdade isso, que hoje, datas locais são mais celebradas do que a própria Proclamação, vide a Revolução Paulista de 1924 e a Gaúcha de 1923. O mínimo que se pode esperar de um país que não se interessa pelos rumos deste, é a incerteza do amanhã, e sem certeza, o país fica entregue aos mais espertos.

Resenha: Introdução (à) Nova Ordem Mundial

nova-ordem-mundial-capaSempre quando se ouve dizer em “nova ordem mundial”, é visível nos olhos de quem ouviu tal expressão o desinteresse ou o desdém preconceituoso. Nada mais natural para alguém que desconhece o assunto. Muitos tem por inexistente aquilo que não conhecem. Mas o fato de uma coisa não ser sabida não quer dizer que ela seja necessariamente inexistente. Pois é nesse caminho que Introdução (à) Nova Ordem Mundial de Alexandre Costa trilha. O autor revela logo no início que o livro é para aqueles que possuem desejo de conhecimento, mas não só isso, mas o conhecimento sem preconceitos: entregando-se àquilo que não se conhece, seja com provas concretas ou (ainda) superficiais.

O assunto é abordado de maneira leve e sem ritos acadêmicos. É uma verdadeiro manual introdutório sobre a nova ordem mundial para leigos ou “analfabetos” no assunto. Muito longe o assunto fica do misticismo, do achismo, da pseudo-intelectualidade ou coisa parecida. Alexandre pede que o leitor não se limite às palavras dele e que vá em busca por contra própria de afirmações ou contestações. Quem está familiarizado com o jornalista do Youtube, Irmão Rubens, pode incrementar a gama de conhecimento fazendo uma relação entre os illuminatis e o plano mundial de dominação pelo comunismo. Na verdade, quem despreza conhecimentos históricos, políticos e filosóficos, sempre terá um conhecimento incompleto da nova ordem mundial. O comunismo é a nova ordem mundial. A nova ordem mundial é o comunismo. Mas o comunismo não acabou com a queda do muro de Berlim? Não! Como? Procure e saberá.

O livro é de fato uma introdução, nada é muito aprofundado, exceto algumas coisas, como por exemplo a revolução cultural apregoada pelo comunista Antonio Gramsci  e aperfeiçoada pela Escola de Frankfurt. Esses dois exemplos não são explorados pelo Irmão Rubens. Os illuminatis não são apenas o único grupo que se pode denominar como “a elite mundial”. Esses, na linguagem política atual, são a “elite globalista”, ou bloco “anglo-saxônico” que não é o único a querer dominar o mundo: está do lado do bloco “russo-chinês” e do “islâmico”. Os três possuem desejos semelhantes, mas correm em pistas diferentes. Se em um futuro eles irão se unir ou colidir, ninguém sabe nada.

No final, o autor recomenda uma série de livros (em inglês e português) de ficção e não ficção, além de documentários e filmes. Não é um livro fruto do acaso, levou dez anos para que Alexandre adquirisse o conhecimento suficiente para transpô-lo para o papel. É vendido no http://www.rarosdaweb.org de forma segura e com entrega rápida.

Aos preconceituosos, a burrice; aos burros, a ignorância.

Aos curiosos, a verdade; a verdade, aos sábios.

A propaganda paranóica da Homeland Security

Meses antes do atentado à maratona de Boston, vi uma chamada da Homeland Secutiry no Youtube. Achei estranha, esquisita, no mínimo curiosa, mas não sei lá porquê, não salvei. Lembrei dela há algum tempo e foi um sacrifício para achá-la, pois eu não sabia sob que título estava. Achei nos confins do Youtube. Assistam. Percebam que é uma verdadeira propaganda ao terrorismo interno. Percebam também a aflição dos personagens e as características deles: nenhum ostenta o visual árabe, inimigo declarado nos tempos da era Bush. Não. Agora o inimigo é interno: branco, europeu ou americano. O governo Obama vem criando um clima de paranóia entre os cidadãos de lá. Todos são potenciais suspeitos de algo, de terrorismo contra os EUA. No final da inserção, a voz macabra anuncia: “Se você ver alguma coisa, denuncie. Avise as autoridades locais sobre atividades suspeitas”. See something, say something é algo tão genérico quanto absurdo. O que é uma atividade suspeita? Qualquer pessoa pode ter em qualquer lugar uma aparência nervosa ou até mesmo estranha, não sendo um terrorista ameaçando a soberania americana. Um filho gripado ou uma cafeteira ligada podem fazer a testa de qualquer um franzir.

O governo Obama está preparando o país para algo terrível e parte da estratégia é jogar os cidadãos contra si, enfraquecendo as relações sociais e familiares, desfazendo a coesão entre as pessoas, deixando o caminho mais fácil para um governo totalitário.  É praxe dos governos socialistas, comunistas e totalitários fazerem isso. Hitler o fez. Dessa forma fica mais fácil implantar a Nova Ordem Mundial.

Reinaldo Azevedo fala das “jornadas de junho” no Café Filosófico

Em 25/10/2013 o jornalista e colunista da revista Veja e do jornal Folha de São Paulo, Reinaldo Azevedo, esteve presente no Café Filosófico e expôs diversos opiniões sobre temas recorrentes no Brasil, tendo como principal assunto na ocasião aquilo que se chamou de Jornadas de Junho. Reinaldo é do contra, direitista, reacionário, liberal e conservador. Chame-o do que quiser, mas um fato deve ser constatado: ele é a favor da liberdade de expressão, doa em quem doer, coisa que está em franca ameaça em nosso país. Melhor do que isso: simplesmente tem uma voz que destoa do politicamente correto.

Na palestra de duas horas, ele explica o que foram as manifestações, como se iniciaram, quem estava agitando por trás (ou pela frente) das massas desorientadas, faz duras críticas aos Black Blocks e defende o estado democrático de direito que é pautado pela ordem, não pelo caos.

Vale a pena assistir.

O lado oculto de Nelson Mandela

 mandela_davidMorre Nelson Mandela. Após meses de saúde debilitada, o líder sul-africano padeceu na casa dele rodeado por amigos e parentes. Nelson Mandela foi preso político, ficando na cadeia por 27 anos. Foi um dos maiores defensores dos direitos humanos na luta contra as diferenças entre brancos e negros e contra o apartheid, ganhando em 1993 o prêmio Nobel da Paz. Esse é o discurso afinado de toda a imprensa brasileira e mundial. Não há uma voz discordante entre especialistas, políticos, colunistas e líderes mundiais. De Bono Vox a Dilma, passando pelo Papa Francisco, todos dizem a mesma coisa. E coitado daquele que falar algo contra a pessoa de Nelson Mandela: será severamente rechaçado. Foi o que aconteceu com o premier da República Checa ao dizer que sente calafrios só de pensar em ir ao funeral do ex-presidente. A declaração foi durante uma sessão do parlamento dele e foi gravada sem que ele tivesse a devida noção. Após o vídeo ganhar as redes sociais e chegar à grande imprensa, teve que pedir desculpas pelas palavras. Divergiu do politicamente correto? Chumbo grosso nele!

Cresci ouvindo falar de Nelson Mandela. Ele estava em meus livros de história, na boca dos professores como um grande homem e a todo instante nos telejornais. Depois de velho fui descobrir um pouco daquilo que a grande mídia não divulga sobre ele. Ouvindo há algum tempo um dos programas do web jornalista Olavo de Carvalho, descobri que Mandela ficou preso porque era militante esquerdista e, como é de costume de muitos deles, estourava bombas em nome da democracia e da liberdade. A exploração das minas de diamantes era de propriedade do governo local e Nelson Rockefeller ajudou na saída de Mandela da prisão em troca recebendo a concessão das explorações no país. No programa, Olavo recomenda a leitura no site New Republic de um artigo que explica melhor a história de Mandela com as companhias de exploração de diamantes. Tomei a iniciativa de traduzi-lo e aqui deixo para quem quiser ler.

O artigo é de 18 de setembro de 2006 (!!!). Segue abaixo.

Após Edward Zwick retornar de Moçambique e Serra Leoa em Junho, ele recebeu uma carta de Nelson Mandela. Zwick, diretor de Tempo de Glória (1989), viajou pela África para filmar Diamantes de Sangue (2006), uma estória sobre a guerra civil que destruiu Serra Leoa durante os anos 1990. O filme, cujo núcleo central gira em torno de um pai e um filho que são escravizados por rebeldes revolucionários, é estrelado por Leonardo DiCaprio que interpreta um cínico mafioso. É verdade que é uma ficção, mas não deixa de ter um contexto historicamente correto.

Entre 1991 e 2002, soldados rebeldes de uma brutal força revolucionária, a Frente Revolucionária Unida, ou RUF em inglês, sequestravam civis e forçavam-nos a trabalhar nas minas de diamantes que são contrabandeados para países vizinhos e desses para a Europa, vendidos por grandes conglomerados da indústria de jóias de alto valor, tais como a De Beers. O dinheiro arrecadado com as vendas volta para Serra Leoa, financiando mais sequestros e violência contra civis.

Diamantes de Sangue é uma dura crítica contra a indústria de diamante em um cenário de guerra absurda e o desprezo dela pelos direitos humanos naquele continente. Zwick tinha todos os motivos para pensar que Mandela, um dos maiores defensores dos direitos humanos, ficaria orgulhoso, coisa que não aconteceu. Na carta endereçada ao diretor, Mandela escreve: “Seria lamentável se o filme inadvertidamente obscurecesse a verdade e, como resultado, mostrasse ao mundo que parar de comprar diamantes de minas africanas é uma atitude apropriada. Esperamos que o desejo de contar uma estória importante tal qual o filme, não afete a produção de diamantes de países da África e, em última análise, os povos dela”. Nenhum desses argumentos fazem sentido, exceto se o leitor não souber de um detalhe que não é conhecido amplamente pelas pessoas: o homem que terminou com o apartheid e se tornou o maior defensor dos direitos humanos neste século, é também um propagandista da indústria de diamantes.

A afinidade de Mandela com a De Beers e com outras companhias de diamantes é resultado tanto da geografia quanto de relacionamentos pessoais. África do Sul produz mais de um bilhão de dólares em diamantes por ano, e, mesmo que o Congresso Africano de Mandela tenha significante influencia comunista e marxista, o partido deu suporte amplo à indústria de diamantes depois de chegar ao poder. Além disso, Mandela tinha amizade com Harry Oppenheimer, o presidente da De Beers, que, como empresário branco da África do Sul, foi relativamente simpático com o movimento anti- apartheid. Oppenheimer encorajou a criação de sindicatos de negros e financiou a política partidária que se opunha especificamente contra as diferenças raciais na África do Sul. Oppenheimer ficou mais próximo de Mandela antes desse se tornar presidente e ficariam mais próximos ainda após Mandela se tornar o líder máximo daquele país. Oppenheimer frequentemente hospedava Mandela na luxuosa mansão dele. Mandela também ficou conhecido por trazer representantes da De Beers para viagens ao exterior.

Nos final dos anos 1990, pressões políticas aumentaram sobre a companhia De Beers, que, à época, controlava 70% do mercado mundial de diamantes. Era preciso parar de fomentar os chamados “conflitos de diamantes” de Serra Leoa. Entenda-se conflitos de diamantes como um eufemismo para o financiamento daquelas guerras sangrentas. Tais conflitos, ajudaram a financiar também a guerra civil de Angola, causando um estrago igual ao de Serra Leoa. Em 2000, Ryan Lizza documentou que a administração do presidente americano Bill Clinton falhou em negociar a paz em Serra Leoa. Organizações de direitos humanos pediram medidas para assegurar que diamantes oriundos de áreas em guerra não chegassem ao mercado consumidor.

Mandela ainda falou pelas indústrias de diamantes: “A indústria de diamantes é vital para a economia da África do Sul e do sul da África”, disse à época, partilhando do discurso da De Beers. “Ficaríamos preocupados com esse tipo de campanha internacional que pode causar prejuízos a esta indústria importante”. Mais ainda, Mandela deixou claro que o posicionamento das indústrias sobre os direitos humanos deveriam ser levado pela “própria iniciativa” delas. Quando, em 2000, o representante americano, Tony Hall, apresentou uma lei que obrigaria todos os diamantes vendidos nos Estados Unidos acima de cem dólares a terem um certificado especificando o país de origem, um executivo das indústrias de diamantes se pronunciou perante o Congresso usando as palavras de Mandela para argumentar que tal medida poderia prejudicar a produção de diamantes em países que exploram a jóia. “O ex-presidente Nelson Mandela se mostrou preocupado com a campanha internacional que pode prejudicar a indústria de diamantes de seu país”. Eli Haas, presidente do Clube de Negociantes de Diamantes, disse isso em um dos subcomitês da Casa Branca.

Eventualmente, em 2002, sob um acordo conhecido como Processo Kimberley, companhias de diamantes concordaram em assegurar que todos os diamantes saíssem de campos de extração legalizados e que o dinheiro arrecadado com as vendas não fomentasse guerras civis. Mas não ficou claro o suficiente o quanto a proposta ficaria eficiente. Um recente relatório das Nações Unidas achou indícios de que dinheiro oriundo de diamantes explorando ilegalmente está ajudando a fomentar conflitos em Gana e Mali. O estudo estima ainda que pelo menos metade dos diamantes explorados em Serra Leoa continua a ser traficada. O problema, conforme especialistas, é que o Processo Kimberley não possui mecanismos eficientes de verificação. “A indústria de diamantes não faz muitas perguntas”, diz Corina Gilfillan da Global Witness, ONG focada na exploração de recursos naturais. Completa ainda: “Ele apenas querem fazer o melhor negócio”.

Mandela continua a dar seu suporte às indústrias de diamantes. Ele recentemente escreveu um bilhete elogiando De Beers pelos serviços prestados à comunidade: “Eu parabenizo a De Beers, líder mundial em diamantes, pelas suas raízes na África do Sul e pelo modo como vem demonstrando suas credenciais como uma corporação cidadã em tantas áreas conflituosas”. A pequena carta, sem surpresas, aparece nos folhetos da De Beers.

A campanha das indústrias de diamantes contra o filme Diamantes de Sangue é apenas a última fase numa continua batalha para afastar más publicidades e permanecer em discrição. Zwick recebeu uma carta mais cedo este ano do presidente do Processo Kimberley e do Conselho Mundial de Diamantes que se mostrava preocupado com o projeto do filme. O Conselho contratou Sitrick e Companhia, uma empresa especializada em gerenciamento de conflitos. Em junho, um blog do portal Los Angeles Times, noticiou que Sitrick listou, sem surpresas, Nelson Mandela para responder às celeumas criadas através do filme. Na ocasião, um dos membros do Conselho, disse que Mandela estava falando por contra própria.

Os discursos de Nelson Mandela em favor da indústria de diamantes são, ao mesmo tempo, plausíveis. Apesar de tudo, ele era o presidente da África do Sul e parte do trabalho de um presidente é cuidar da economia do país. Mas Mandela não é respeitado como um dos heróis do século vinte por causa da busca apurada dos interesses da África do Sul. Mais, ele tem uma moral pela longa campanha contra o apartheid, uma campanha que apelou para valores universais como direitos humanos e liberdade. Acobertado pela indústria de diamantes durante os anos 1990, ao tempo em que a produção de diamantes ajudava a financiar a brutal guerra civil de Serra Leoa, Mandela pôs os interesses nacionais de seu país acima desses valores universais. Hoje ele continua a fazer o mesmo.

Verdade e reconciliação, tudo isso é desperdício”, diz o personagem de Leonardo DiCaprio para uma jornalista idealista no filme. Claro, Nelson Mandela não concordaria. Mas, trabalhando para a indústria de diamantes, ele deixa aptos aqueles que o fazem.

Foto: Nelson Mandela e David Rockfeller se cumprimentam durante uma conferência de negócios no Rockfeller Center em Nova Iorque.

Resenha: Cuba, a tragédia da utopia

c_puginaUma coisa leva a outra. Disso, muita gente sabe. Foi assim que conheci o livro Cuba: A Tragédia da Utopia. Descobri o site de notícias Mídia Sem Máscara e logo após descobri que houve uma série de programas de TV com o mesmo nome do portal. Com apresentação do jornalista Olavo de Carvalho, o xou repetia o objetivo do site: divulgar notícias que não eram selecionadas pela (grande) mídia. Em um dos programas, foi entrevistado Percival Puggina, arquiteto e colunista gaúcho que lá esteve falando sobre o livro citado. Imediatamente saí à procura de um exemplar nas livrarias virtuais, mas nada. Até que encontrei um no site da Estante Virtual, porém o preço estava salgado, o que por si só não justifica a minha aquisição, mas por que na época estava com pouco dinheiro. Entrei em contato com o próprio autor, através do blog dele, perguntando se possuía um livro sobrando, mas depois de alguns dias ele negou e disse que para uma nova tiragem seria preciso uma revisão do livro. Dias depois entrei no site do Livronauta e lá havia um exemplar, com preço bem acessível. Pedi na hora e o li rapidamente.

Cuba é um paraíso. Um particular paraíso totalitário que Fidel Castro e seu irmão, Raul, conseguiram construir. Se existe um lugar na banda ocidental do planeta no qual o comunismo chegou ao ápice e 1984 de George Orwell tem quase uma fiel reprodução, este lugar é Cuba. Na cabeça de qualquer estudante inocente, como eu um dia fora, e nas milhares mentes de pessoas manipuladas pela mídia e por professores, Cuba é um local onde as pessoas não sofrem, todas são iguais, o Estado provê tudo, a medicina e a educação possuem altos índices de qualidade etc. E isso tudo, dependendo do ponto de vista das viúvas do comunismo, é verdade. O povo é igual… na miséria. É nivelado por baixo. A educação é boa, cheia de doutrinação marxista. Alcança quase a integralidade das crianças e jovens, mas isso não quer dizer que a qualidade seja compatível com a quantidade (se é que há uma relação entre as duas medidas). A medicina é excelente, também nos padrões de qualidade cubano-marxistas. Médicos formados em uma ilha isolada, sem contato com o mundo exterior e, portanto, sem intercâmbio com universidades de outros países. Tirem suas conclusões. É de se pensar que na cabeça de quem elaborou esse céu, a ilha seja realmente um paraíso. Mas se ela é tudo isso, por que milhares de cubanos tentam fugir de lá todos os anos? Por que até a própria filha de Fidel fugiu no início dos anos 1990? Vai ver porque o padrão cubano de qualidade não é lá essas coisas. O que é bom para Fidel, não é bom para muitos habitantes de lá, nem para os que conseguem atravessar o bloqueio intelectual que protege o país fora dele.

Toda revolução que se preza há inimigos. Os eternos inimigos a serem (ainda) vencidos (e humilhados) no caso cubano são os porcos imperialistas americanos e a ditadura de Fulgencio Batista. Esses dois inimigos rendem louros à revolução castrista que livrou o povo das garras daqueles opressores. Um grande contorcionismo educacional, midiático e propagandístico se faz para incutir na cabeça de todos os cidadãos cubanos (e dos simpatizantes do regime no exterior) que os americanos são os culpados pela miséria através do bloqueio imposto em 1962. No entanto o que praticamente sustenta a economia da ilha é o dinheiro de cubanos que vivem no exterior. Costuma-se dizer que famílias que comem um pouco melhor possuem “fé”, ou seja, família nos Estados Unidos. Em Cuba pode entrar dinheiro, só não pode sair.

Batista é o ditador que embora fosse de esquerda também, era de uma ala light, o que já era suficiente para os irmãos Castro o considerarem inimigo. Mesmo eternizado como governo tirano antes da revolução libertadora, os índices educacionais na época dele eram melhores do que os de hoje, o numero de leitos hospitalares era maior, o PIB era maior e Cuba exportava cultura. Na época de Fulgencio, Cuba não era um paraíso, mas é no mínimo covardia comparar os abusos dele com os de Castro. Para exemplificar, o numero de mortes devido às perseguições políticas nos tempos de Fulgencio chegam a aproximadamente 500. Esse número é superado por Fidel logo nos dois primeiros dias da revolução. Após a tomada do poder, execuções sumárias foram feitas, algumas até em praça pública. Há de se ressaltar que Fidel contou com ajuda do povo, este já enganado pelos discursos inflamados do comandante hábil que diria que não faria as mães cubanas chorarem. No final, fez e faz muitas delas chorarem até hoje.

Puggina passou por situações que lhe causaram mais do que aflição. Medo até. Ao se encontrar com um informante em um restaurante, foi filmado por uma dupla de funcionários do governo, da polícia política, que usaram uma monstruosa filmadora firmada em um tripé. O big brother cubano é muito arcaico, mas eficiente ao partido. Os escritos preciosos que deram origem ao livro foram guardados dentro do sapato, pois havia o sério risco de o autor e a bagagem dele serem revistados na saída no aeroporto. Conta também que pela primeira vez na vida soube o que é estar ilhado literalmente. Para sair de Cuba somente pelo mar ou pelo ar. Não há estradas. Não há pontes.

Mesmo com tanta tristeza, miséria intelectual e perseguição política, parece que os cubanos ainda mantêm a chama da esperança através do humor sutil que tem. Há um ditado que diz que um homem perdeu o papagaio e em anúncios o procura: “Procura-se um papagaio. Recompensa-se que o achá-lo. Seu dono teme que ele compartilhe de suas opiniões políticas”.

Ninguém buzina para o Islã

Multidões, Eid al-Adhay .arte_facto hereges perversões 03Uma das consequências, e por que não dizer objetivos, do materialismo, é cerrar a visão humana a somente aquilo em que ela pode tocar. Entenda-se como tocar aquilo que está compreendido no período de tempo da existência daquela pessoa. Portanto, é fácil dizer que um homem que vive oitenta anos, estará bitolado a uma visão, seja ela qual for, somente àquele período em que ele viveu.

Claro que existe uma certa elasticidade, para mais e para menos, além desse período de vida. Tal medida de tempo pode se estender até períodos muito longínquos, conforme a cada conveniência. O que mais observo nesse contexto é que quando o tema envolve história, as pessoas tendem somente a conhecer a humanidade antes da Idade Média e depois dela. Parece que a odisseia humana ficou parada por mil anos e voltou na era iluminista.

A coisa fica mais séria quando o assunto é religião, pois pouquíssimos sabem a contribuição da dela ao longo desses mil anos. A religião é algo maligno, alienante e retrógado a partir do iluminismo, da ciência e da razão antropológica, na vida deles.

O problema é que o adversário não sabe e nem quer saber dessa dita contribuição. À medida em que o Ocidente judaico-cristão vai se destruindo por toda sorte de males, o Islã vai crescendo. Naqueles mil anos esquecidos (e distorcidos) pela memória popular, houve uma grande batalha religiosa entre cristãos e muçulmanos. As cruzadas tão demonizadas em nosso ensino fundamental não foram apenas retomadas de rotas comerciais com viés religioso, foram guerras disputando-se terras e poder. Se não houvesse as cruzadas cristãs, hoje a Europa seria integralmente do Islã e quem sabe as Américas também.

O pseudo-intelectual (ou intelectual de botequim) brasileiro ataca a religião, mormente a cristã. A ele foi ensinado que a religião é o ópio do povo e blá blá blá. Nunca me deparei com alguma dessas sábias criaturas falando do judaísmo ou do islamismo. Nunca! Mas por quê? Por essas duas religiões não fazem parte do nosso cotidiano. Não somos Israel e nem vizinho dele. Também não somos uma nação tomada pelo Corão. Mas calma, o assunto ainda vai chegar às mesas de bares quando a coisa aparecer com mais evidencia nela, na televisão. Mas quando algo aparece em forma de reportagens na TV, é porque os coliformes fecais já estão reunidos e fedendo muito.

Tudo isso é para mostrar brevemente que o Islã está tomando pouco a pouco a Europa. Aquilo que aconteceu no passado e que o dotô não sabe, acontece novamente diante de nossos olhos, mas não é mostrado pela TV. Se não é mostrado, não ganha crédito informativo.

Por essas bandas onde ser cristão é ser um ignorante alienado, basta dizer que se adora a Jesus para ser alvo de chacota, zombaria e risadinhas. Basta ouvir um irmãozinho falando a um microfone na rua para ser alvo de burburinhos que crescem e vez ou outra se transformam em cusparadas. Criticar cristão é chique. Mas ninguém fala nada do Islã.

Há dezenas de vídeos na rede mundial mostrando reuniões de muçulmanos na Europa e na América do Norte. Eles oram em via pública em Roma (aqui), São Pertesburgo (aqui), Moscou (aqui) e Paris (aqui). Nesta última, fecham as ruas todas às sextas-feiras e pasmem, ninguém reclama, ninguém buzina, ninguém diz sequer um ai. E olha que a França é o berço da revolução. É o lugar para o qual os militantes ateístas voltam as cabeças deles e dobram os joelhos (rá, trocadilho infame) e exaltam a separação da religião do da política, nem que para isso tenha-se matado dez vezes mais em um único ano mais em toda a Inquisição europeia.

Alguém pode dizer: mas ninguém faz isso porque eles têm medo da fama de terrorista dos muçulmanos. É claro. Isso faz parte da estratégia político-religiosa. A tomada da Europa não será através da guerra como foi nos tempos medievais, mas através dos meios culturais, acadêmicos e midiáticos.

A elite mundial faz com que os intelectuais adestrados que trabalham para ela divulgarem duas frentes: a primeira de que, se um cristão age energicamente contra algo que infrinja a fé dele, ele deve ser visto como um alienado, ignorante e fascista, fazendo com que a massa volte-se contra ele e acue-o em um pífio campo social. A segunda de que o Islã vende terror e mais terror, mesmo que os adeptos dessa religião sequer saibam manusear uma faca de manteiga. Veja esse vídeo aqui. Um homem ora nos ritos islâmicos na frente de milhares de pessoas em um lugar que parece ser uma cerimônia de formatura nos EUA (talvez seja por causa do campo de futebol americano). A legenda diz: “Nunca ter vergonha de orar (a Alá)”. Ninguém nada fez talvez porque incutiram na cabeça das pessoas que o cristão desse ser pacífico diante de qualquer coisa, mesmo tendo a unidade social-religiosa ameaça. Se fosse o contrário, um americano orando em um país muçulmano, no mínimo levaria umas tapas na cara.

 “O Islã voltará a Europa mais uma vez. Isso será feito através da guerra? Não. Não existe nada melhor do que uma conquista pacífica. A conquista pacífica tem cernes na religião, (…), sem que seja preciso usar a espada ou a luta. Isso será feito pela fé islâmica e pela ideologia. A Europa é miserável em seu materialismo, filosofia e promiscuidade (…)”. Palavras de Yusuf al-Qaradawi, influente pensador muçulmano, integrante da Irmandade Muçulmana. Veja aqui, em inglês.

Então quando diante de um pseudo-intelectual que fala abobrinhas contra o cristianismo, saiba que ele é apenas um pobre coitado a serviço da elite mundial que visa destruir o judaísmo e o cristianismo, mas sem perceber que se constrói nisso um vazio religioso a ser preenchido pelo Islã.

“O Islã adora o vazio religioso. Destruído o judaísmo e o cristianismo, o Islã vem e toma tudo”, Olavo de Carvalho. E aí aquele idiota útil que criticava o cristianismo, vai ter que dobrar os joelhos. Se não o fizer, vai se dar mal. Muito mal.

Mensalão: onde estão os Black Blocs e Anonymous mascarados?

Paulo Martins responde.

 

Recomendo o Canal da Direita no Youtube.

E se Celso de Mello votar a favor dos mensaleiros?

E se Celso de Mello votar a favor dos mensaleiros? “O país acabou“, diz o jornalista Paulo Eduardo Martins da TV Massa, afiliada do SBT em Curitiba, Paraná.

 

Resenha: Manifesto do nada na terra do nunca

livrolobaoLobão já havia lançado um livro, a autobiografia 50 anos a mil, mas nunca tive o desejo de lê-lo. Na verdade nunca fui fã do Lobão nem de nenhum outro artista, salvo curtas épocas em minha adolescência e início da fase adulta. O que sabia dele é que é (ou era) um roqueiro locão que fala o que quer sem medo. Vejam só o tamanho da ignorância que uma pessoa pode ter com base em preconceitos e estereótipos. Julgar esse ou aquele pelo estilo musical ou pelos trejeitos da eloquência televisiva é no mínimo um absurdo. Lobão é sim um loucão, porra-loca, mas é apenas o estilo dele. O fato de ele ser assim não implica que não mereça atenção ou crédito por qualquer coisa que tenha feito. Acima de tudo, ele é um brasileiro feito qualquer um. Faço essas observações antes de entrar propriamente na resenha porque este livro lançado caiu no desgosto da turma do politicamente correto e foi tachado de reacionário.

O ponto chave desse início é que ele acordou. Acordou da ilusão socialista, comunistas, esquerdista, petista ou vermelhista. Deixa isso claro feito água pura nas linhas do livro e diz que há mais expurgo espiritual na autobiografia. Ele acordou porque simplesmente o que aparecia diante dos olhos dele era incompatível com as (falsas) promessas ditas por aquela turma. O que Lobão fez foi simplesmente usar as faculdades mentais e os cinco sentidos, coisa rara nos tempos atuais. Somou dois mais dois e viu que o resultado era quatro. Nada mais. Feito isso passou a procurar respostas tolas, porém importantes, tais como “por que o brasileiro é do jeito que é?” ou “por que somos tão felizes apesar das infelicidades noticiadas todos os dias nos jornais?”. E foi à luta. E por sair da zona de conforto, ou da preguiça, ou da mediocridade, ou da idiotice, foi carimbado com a alcunha de reacionário. E, claro, o passado dele é usado da forma mais vil para descredibilizar a obra. “Quem esse roqueiro pensa que é para falar mal da MPB?” E é nesse mote que se inicia a leitura.

O livro é uma crítica ao atual cenário geral do Brasil, mas com especial atenção à cultura e à música. Aquarela do Brasil 2.0 é o primeiro capítulo e nele Lobão dá as boas vias ao leitor com um humor fino e sutil. Reproduzo abaixo o trecho que me vez gargalhar:

(…) A celebrar em êxtase a vitória dos simplórios,

A vitória da classe média endividada, perambulando feito zumbi no shopping center, noite  e dia.

Perseguindo, no vazio a virgindade existencial, uma diversão que jamais sacia.

Acolhendo, em Seu seio,

Playboys agrobregas a desfilar pelos rodeios, arraiais e micaretas, caçando línguas das periguetes de abadá (…).

O livro não ganhou espaço na mídia porque ele constata a decadência do povo brasileiro. Como o sistema midiático brasileiro está de conluio com o sistema político que faz questão de emburrecer o povo, é claro que não dariam espaço para uma obra desse quilate. Lobão desce a letra no governo cheio de regalias e assistencialismo, nos petralhas quando critica a formação da dita comissão da verdade e no cenário da música brasileira. A MPB, nunca imaginei, é um estilo criado pela esquerda brasileira para abarcar as letras politicamente corretas, engajadas politicamente para servir a um ideal. A MPB, musical popular brasileira, de popular não tinha nada. Popular mesmo, ouvido e admirado pelo povão lá nos idos de 1960/1970 era o que hoje chamamos de brega. A MPB foi criada para conscientizar o povo do que era importante para a esquerda. O povão, pobre coitado, muitas vezes nem sabia o porquê daquela letra. Os festivais de música serviram a esse propósito: tornar a MPB, que não era popular, em popular. E nesse projeto muitos cantores foram cooptados, tais como Roberto Carlos que era roqueiro original antes de se tornar uma múmia da MPB.

E o autor explica minuciosamente porque esse estilo, MPB, foi criado. Partindo como base da Semana de Arte Moderna de 1922, Lobão explica que uma elite de artistas, os modernistas, tentaram (e com sucesso!) dar uma identidade nacionalíssima à arte brasileira, sobretudo usando a música para tal. Mas esse sucesso não é positivo. Foi uma desgraça espalhada, por assim dizer. E o cúmulo dessa manifestação é o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade que é severamente criticado por Lobão em forma de diálogo com o modernista no último capítulo.

Logo, a MPB é fruto dessa manifestação modernista brasileira de querer se apartar do mundo inteiro, criando uma identidade pura, tão pura que faria Hitler sentir inveja de tamanha originalidade. A cultura indígena é bonita, e com a branca portuguesa e africana o Brasil foi formado, mas não se pode, com base no orgulho e preconceito, criar uma nação separada do mundo, retroagindo a tempos antes da roda simplesmente para se dizer que somos puramente brasileiros originais, sem nenhuma influência europeia, cristã ou romana. O que é bom deve ser copiado, difundido e melhor, deve servir de inspiração para outras coisas boas. Foi assim que grandes nações se tornaram o que são. Ao invés de mergulhamos no orgulho do fracasso, na exaltação da ignorância, deveríamos aprender com os demais povos e não só com o indígena.

Essa antropofagia é palpável no dia-a-dia. Tente conversar algo sério com alguém. Na maioria das vezes, se você apresentar argumentos convincentes, o seu oponente na conversa usará de dos artifícios: ou ele começará a gritar com gestos a fim de suprimir sua voz ou passará a descredibilizá-lo, geralmente com palavrões. Esse orgulho do nada (quem sabe da ignorância) alimenta a ideia de que o ignorante é superior pelo achismo ou pelo coronelismo. Vendo que alguém domina mais sobre determinado tempo, o brasileiro antropófago devora o outro pela humilhação, pela gritaria, pela baixaria, conduzindo a nação a mais um novo degrau de rebaixamento. Dessa maneira nunca seremos um grande país, porque não deixamos que o outro seja melhor, mesmo quando ele fez por onde. Não basta ter inveja da grama do vizinho que é mais verde, tem que jogar sal para nada mais lá nascer.

Outro exemplo toma conta do segundo capítulo. Lobão entra no mundo do sertanejo universitário e se pergunta: se a musica brasileira quer ser original, o que há de tão original nesse hit, sendo que ele é totalmente americano? É uma contradição de saltar os olhos. E dito isso, fica a pergunta: por que o sertanejo universitário bombou? Simples, meu caro Watson, ele recebeu a benção do politicamente correto, podendo ganhar as massas com músicas imbecis. Não são músicas engajadas politicamente, mas são eficientes para deixar as massas débeis e dóceis.

Mas o Brasil tem algo de original no cenário musical? Sim, o funk carioca. O quê?!?!? Não confunda originalidade geográfica com qualidade da letra. São coisas diferentes. E realmente faz sentido. O funk carioca é nosso, apesar das letras de cunho sexual apelativo e de mau gosto. Mas paciência, fazer o quê, se por aqui há muito sol?

O livro é muito bom. Deixem os preconceitos de lado e comprem. Leiam em um tapa. Abram suas mentes no quesito musica brasileira. Deixem a resposta para “por que a música brasileira passa por um momento tão tenebroso” chegar. Lobão tem cacife para isso. É musico profissional e toca bateria desde os seis anos de idade. Não deixem que os críticos de literatura, que sequer leem os livros, pensarem por vocês. Não é um livro de achologia, não é um diário, não é um desabafo, mas sim algo estudado, nota-se isso pela bibliografia extensa e de ótima referência.

Quanto à autobiografia do roqueiro, depois da leitura deste, ela entrou para o rol dos próximos livros a serem comprados.

Obs. 1: No capítulo Viagem ao coração do Brasil, Lobão passa por uma aventura na Amazônica. Faz uma reportagem em forma de reality show e passa por situações insólitas e engraçadas. Antes de embarcar para o Garimpo do Juma, passa por Manaus, conhecendo o Teatro Amazonas e o restaurante e bar Galo Carijó. É um capítulo à parte do manifesto, é mais um relato que deixa o autor extasiado com a imensidão  e as diferenças regionais de nosso país.

Obs. 2: apesar do nome, o livro não foi escrito ou lançado após as manifestações populares de junho. Foi muita coincidência o autor retratar um “manifesto do nada” na “terra do nunca” antes das ditas manifestações nas quais o povo da “terra do nunca” foi às ruas manifestar contra tudo, sem saber de nada. O autor já pensa em fazer um adendo ao livro para futuras edições ou escrever um novo livro sobre tais acontecimentos.