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O lado oculto de Nelson Mandela

 mandela_davidMorre Nelson Mandela. Após meses de saúde debilitada, o líder sul-africano padeceu na casa dele rodeado por amigos e parentes. Nelson Mandela foi preso político, ficando na cadeia por 27 anos. Foi um dos maiores defensores dos direitos humanos na luta contra as diferenças entre brancos e negros e contra o apartheid, ganhando em 1993 o prêmio Nobel da Paz. Esse é o discurso afinado de toda a imprensa brasileira e mundial. Não há uma voz discordante entre especialistas, políticos, colunistas e líderes mundiais. De Bono Vox a Dilma, passando pelo Papa Francisco, todos dizem a mesma coisa. E coitado daquele que falar algo contra a pessoa de Nelson Mandela: será severamente rechaçado. Foi o que aconteceu com o premier da República Checa ao dizer que sente calafrios só de pensar em ir ao funeral do ex-presidente. A declaração foi durante uma sessão do parlamento dele e foi gravada sem que ele tivesse a devida noção. Após o vídeo ganhar as redes sociais e chegar à grande imprensa, teve que pedir desculpas pelas palavras. Divergiu do politicamente correto? Chumbo grosso nele!

Cresci ouvindo falar de Nelson Mandela. Ele estava em meus livros de história, na boca dos professores como um grande homem e a todo instante nos telejornais. Depois de velho fui descobrir um pouco daquilo que a grande mídia não divulga sobre ele. Ouvindo há algum tempo um dos programas do web jornalista Olavo de Carvalho, descobri que Mandela ficou preso porque era militante esquerdista e, como é de costume de muitos deles, estourava bombas em nome da democracia e da liberdade. A exploração das minas de diamantes era de propriedade do governo local e Nelson Rockefeller ajudou na saída de Mandela da prisão em troca recebendo a concessão das explorações no país. No programa, Olavo recomenda a leitura no site New Republic de um artigo que explica melhor a história de Mandela com as companhias de exploração de diamantes. Tomei a iniciativa de traduzi-lo e aqui deixo para quem quiser ler.

O artigo é de 18 de setembro de 2006 (!!!). Segue abaixo.

Após Edward Zwick retornar de Moçambique e Serra Leoa em Junho, ele recebeu uma carta de Nelson Mandela. Zwick, diretor de Tempo de Glória (1989), viajou pela África para filmar Diamantes de Sangue (2006), uma estória sobre a guerra civil que destruiu Serra Leoa durante os anos 1990. O filme, cujo núcleo central gira em torno de um pai e um filho que são escravizados por rebeldes revolucionários, é estrelado por Leonardo DiCaprio que interpreta um cínico mafioso. É verdade que é uma ficção, mas não deixa de ter um contexto historicamente correto.

Entre 1991 e 2002, soldados rebeldes de uma brutal força revolucionária, a Frente Revolucionária Unida, ou RUF em inglês, sequestravam civis e forçavam-nos a trabalhar nas minas de diamantes que são contrabandeados para países vizinhos e desses para a Europa, vendidos por grandes conglomerados da indústria de jóias de alto valor, tais como a De Beers. O dinheiro arrecadado com as vendas volta para Serra Leoa, financiando mais sequestros e violência contra civis.

Diamantes de Sangue é uma dura crítica contra a indústria de diamante em um cenário de guerra absurda e o desprezo dela pelos direitos humanos naquele continente. Zwick tinha todos os motivos para pensar que Mandela, um dos maiores defensores dos direitos humanos, ficaria orgulhoso, coisa que não aconteceu. Na carta endereçada ao diretor, Mandela escreve: “Seria lamentável se o filme inadvertidamente obscurecesse a verdade e, como resultado, mostrasse ao mundo que parar de comprar diamantes de minas africanas é uma atitude apropriada. Esperamos que o desejo de contar uma estória importante tal qual o filme, não afete a produção de diamantes de países da África e, em última análise, os povos dela”. Nenhum desses argumentos fazem sentido, exceto se o leitor não souber de um detalhe que não é conhecido amplamente pelas pessoas: o homem que terminou com o apartheid e se tornou o maior defensor dos direitos humanos neste século, é também um propagandista da indústria de diamantes.

A afinidade de Mandela com a De Beers e com outras companhias de diamantes é resultado tanto da geografia quanto de relacionamentos pessoais. África do Sul produz mais de um bilhão de dólares em diamantes por ano, e, mesmo que o Congresso Africano de Mandela tenha significante influencia comunista e marxista, o partido deu suporte amplo à indústria de diamantes depois de chegar ao poder. Além disso, Mandela tinha amizade com Harry Oppenheimer, o presidente da De Beers, que, como empresário branco da África do Sul, foi relativamente simpático com o movimento anti- apartheid. Oppenheimer encorajou a criação de sindicatos de negros e financiou a política partidária que se opunha especificamente contra as diferenças raciais na África do Sul. Oppenheimer ficou mais próximo de Mandela antes desse se tornar presidente e ficariam mais próximos ainda após Mandela se tornar o líder máximo daquele país. Oppenheimer frequentemente hospedava Mandela na luxuosa mansão dele. Mandela também ficou conhecido por trazer representantes da De Beers para viagens ao exterior.

Nos final dos anos 1990, pressões políticas aumentaram sobre a companhia De Beers, que, à época, controlava 70% do mercado mundial de diamantes. Era preciso parar de fomentar os chamados “conflitos de diamantes” de Serra Leoa. Entenda-se conflitos de diamantes como um eufemismo para o financiamento daquelas guerras sangrentas. Tais conflitos, ajudaram a financiar também a guerra civil de Angola, causando um estrago igual ao de Serra Leoa. Em 2000, Ryan Lizza documentou que a administração do presidente americano Bill Clinton falhou em negociar a paz em Serra Leoa. Organizações de direitos humanos pediram medidas para assegurar que diamantes oriundos de áreas em guerra não chegassem ao mercado consumidor.

Mandela ainda falou pelas indústrias de diamantes: “A indústria de diamantes é vital para a economia da África do Sul e do sul da África”, disse à época, partilhando do discurso da De Beers. “Ficaríamos preocupados com esse tipo de campanha internacional que pode causar prejuízos a esta indústria importante”. Mais ainda, Mandela deixou claro que o posicionamento das indústrias sobre os direitos humanos deveriam ser levado pela “própria iniciativa” delas. Quando, em 2000, o representante americano, Tony Hall, apresentou uma lei que obrigaria todos os diamantes vendidos nos Estados Unidos acima de cem dólares a terem um certificado especificando o país de origem, um executivo das indústrias de diamantes se pronunciou perante o Congresso usando as palavras de Mandela para argumentar que tal medida poderia prejudicar a produção de diamantes em países que exploram a jóia. “O ex-presidente Nelson Mandela se mostrou preocupado com a campanha internacional que pode prejudicar a indústria de diamantes de seu país”. Eli Haas, presidente do Clube de Negociantes de Diamantes, disse isso em um dos subcomitês da Casa Branca.

Eventualmente, em 2002, sob um acordo conhecido como Processo Kimberley, companhias de diamantes concordaram em assegurar que todos os diamantes saíssem de campos de extração legalizados e que o dinheiro arrecadado com as vendas não fomentasse guerras civis. Mas não ficou claro o suficiente o quanto a proposta ficaria eficiente. Um recente relatório das Nações Unidas achou indícios de que dinheiro oriundo de diamantes explorando ilegalmente está ajudando a fomentar conflitos em Gana e Mali. O estudo estima ainda que pelo menos metade dos diamantes explorados em Serra Leoa continua a ser traficada. O problema, conforme especialistas, é que o Processo Kimberley não possui mecanismos eficientes de verificação. “A indústria de diamantes não faz muitas perguntas”, diz Corina Gilfillan da Global Witness, ONG focada na exploração de recursos naturais. Completa ainda: “Ele apenas querem fazer o melhor negócio”.

Mandela continua a dar seu suporte às indústrias de diamantes. Ele recentemente escreveu um bilhete elogiando De Beers pelos serviços prestados à comunidade: “Eu parabenizo a De Beers, líder mundial em diamantes, pelas suas raízes na África do Sul e pelo modo como vem demonstrando suas credenciais como uma corporação cidadã em tantas áreas conflituosas”. A pequena carta, sem surpresas, aparece nos folhetos da De Beers.

A campanha das indústrias de diamantes contra o filme Diamantes de Sangue é apenas a última fase numa continua batalha para afastar más publicidades e permanecer em discrição. Zwick recebeu uma carta mais cedo este ano do presidente do Processo Kimberley e do Conselho Mundial de Diamantes que se mostrava preocupado com o projeto do filme. O Conselho contratou Sitrick e Companhia, uma empresa especializada em gerenciamento de conflitos. Em junho, um blog do portal Los Angeles Times, noticiou que Sitrick listou, sem surpresas, Nelson Mandela para responder às celeumas criadas através do filme. Na ocasião, um dos membros do Conselho, disse que Mandela estava falando por contra própria.

Os discursos de Nelson Mandela em favor da indústria de diamantes são, ao mesmo tempo, plausíveis. Apesar de tudo, ele era o presidente da África do Sul e parte do trabalho de um presidente é cuidar da economia do país. Mas Mandela não é respeitado como um dos heróis do século vinte por causa da busca apurada dos interesses da África do Sul. Mais, ele tem uma moral pela longa campanha contra o apartheid, uma campanha que apelou para valores universais como direitos humanos e liberdade. Acobertado pela indústria de diamantes durante os anos 1990, ao tempo em que a produção de diamantes ajudava a financiar a brutal guerra civil de Serra Leoa, Mandela pôs os interesses nacionais de seu país acima desses valores universais. Hoje ele continua a fazer o mesmo.

Verdade e reconciliação, tudo isso é desperdício”, diz o personagem de Leonardo DiCaprio para uma jornalista idealista no filme. Claro, Nelson Mandela não concordaria. Mas, trabalhando para a indústria de diamantes, ele deixa aptos aqueles que o fazem.

Foto: Nelson Mandela e David Rockfeller se cumprimentam durante uma conferência de negócios no Rockfeller Center em Nova Iorque.


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