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Brasileiros Pocotó: reflexões sobre a mediocridade que assola o Brasil

51Pzc+09qzL._SS500_Você já teve a sensação alguma vez na sua vida típica de brasileiro de que o país, o povo, está emburrecendo? Já ficou chateado e frustrado com a qualidade da programação televisiva? Ou já ficou indignado com o ranking dos livros mais vendidos? Pois é, essa é a mesma queixa de que Luciano Pires, autor de Brasileiros Pocotó, compartilha. E ele fala com autoridade sobre o assunto: possui 57 anos, cresceu na vida com méritos próprios, hoje é executivo de uma grande empresa e viaja país afora palestrando sobre negócios e a peculiar personalidade do brasileiro.

O livro teve a primeira edição em 2003 e conta uma novilha em folha em versão digital à venda no site da Amazon Brasil (aqui). Mas eu fiz questão de comprar em um sebo uma das primeiras edições, a terceira, ainda de 2003. Ler um livro publicado no passado é como viajar no tempo, literalmente. Lá, nas linhas, percebe-se o Brasil daquela época sob a ótica do autor. E ao longo do livro e finalizada leitura do mesmo, cheguei a seguinte conclusão: nada mudou. Se antes tínhamos MC Serginho, agora temos MC Naldo. Quanta evolução. E é fácil perceber isso porque Luciano Pires retrata com a visão simples de um brasileiro que apenas possui o desejo de enxergar aquilo que a maioria se nega a fazê-lo.

O autor teve como umas das primeiras profissões a função de chargista (cada capítulo do livro é ilustrado com uma). Nessa ocupação ele já destilava o doce veneno da verdade brasileira: a mediocridade que assola nosso país desde a fundação. O tempo passou e ele começou a escrever pequenos ensaios que eram lidos em uma rádio. Em um certo domingo, ao ligar a TV e presenciar o espetáculo bizarro da “eguinha pocotó” protagonizado por aqueles que eram chamados de MC Serginho e Lacraia, teve um estalo, um surto, ou simplesmente a gota d´água que transbordou a falta de bom senso na televisão nacional e escreveu um artigo que foi lido na segunda-feira seguinte ao Domingo Legal (do Gugu no SBT).

Houve uma catarse. O público ouvinte imediatamente se identificou com o texto e a caixa de e-mail da estação ficou cheia em poucas horas, além de haver congestionamento nas linhas telefônicas. Depois disso Luciano reuniu vários textos e publicou o presente livro que está alicerçado em dois assuntos: personalidade do brasileiro e responsabilidade da mídia, ambos temperados com mediocridade.

Com observações engraçadas, o brasileiro é apresentado como um ser único do mundo cuja visão é diferente de todos os demais cidadãos do mundo. Todo mundo enxerga o mundo com os pés no chão (e isso é o normal), já o brasileiro possui a visão plantando bananeira e essa é a visão dele. Mas não é só isso: é a visão certa de tudo. Vangloriamo-nos de nossa mediocridade com orgulho. Cultuamos a malandragem como um status a ser alcançado. Fazemos do certo o errado e do errado o certo. A inveja faz parte do cotidiano e o “sabe com quem você está falando?” é o nosso slogan nacional. O jeitinho brasileiro é a panaceia (em todas as camadas sociais). Engana-se aquele que identifica como medíocre, burro, infeliz e ignorante o brasileiro pobre e semi-analfabeto. Não. A mediocridade assola pobre e ricos, brancos e negros, consumidores e empreendedores, governantes e governados. Se um pobre faz uma gambiarra para ter desviar energia, o rico dá carteirada em estádio de futebol. Degradamo-nos em quase tudo, exceto no futebol. Não somos capazes de exaltar nossas belezas naturais ou a insistência dos nossos empresários que lutam contra uma carga tributária absurda, gerando riqueza, tributos e emprego. Não tomamos iniciativa para melhorar nossas vidas. Pelo contrário: baixamos a cabeça e começamos a ter inveja da grama do vizinho que é mais verde. Reclamamos dos políticos, mas eles não são marcianos, eles são oriundos do povo. Reclamamos da educação, mas o que fazemos pela nossa própria educação? Que livros nós estamos lendo? Que programas nós estamos vendo? Será que não estamos lendo muitos livros de auto-ajuda com muita figurinhas? Será que não estamos dando audiência demais às novelas e aos astros do futebol que já estão pobres de rico? O que estamos fazendo para melhorar nossa vida com méritos próprios sem ficar reclamando do governo? Que povo maluco é esse que pratica autobullying?

Apesar de identificar com riqueza os males do brasileiro, as qualidades também são exaltadas. Mas de nada adianta possuir a melhor infraestrutura do mundo, se já entramos em campo com a autoestima em níveis abissais. O Brasil dos negócios e da criatividade é colocado de uma maneira bem simples a tal ponto que me perguntei: por que não somos assim na essência de nossa cidadania? Acho que essa foi a intenção do autor.

O segundo ponto principal abordado é a responsabilidade da mídia que não possui nenhuma responsabilidade. A imprensa brasileira destrói com gosto o pouco que temos. Ligue os televisores: há apenas tragédia nos telejornais, futebol, novelas, cantores de mais baixa qualidade e reality shows os mais bizarros possíveis cheios de desconhecidos apadrinhados ou subcelebridades decadentes.  Nada mais do que isso. Não há um programa que fomente a educação, o debate político entre direita e esquerda, sobre alta cultura ou leitura. Quando há é porque a lei que regula as atividades televisivas exige um espaço mínimo para um assunto mais culto. Não é à toa que esse tipo de programa é exibido lá apenas cinco da manhã. O autor faz um levantamento impressionante que me deixou de queixo caído: a Escuderia Fittipaldi, que foi uma equipe brasileira de fórmula 1 nos anos 1970, terminou campeonatos na frente de equipes de ponta, tais como MacLaren, Williams, Arrows e Renault. E porque a equipe canarinha não deu certo? Não foi por falta de competência. O time contava com o próprio Emerson Fittipaldi, bi-campeão mundial da F1, engenheiros e designers brasileiros de alto escalão mundial. O que faltou então? Faltou colaboração entre brasileiros. Faltou colaboração da mídia que a cada domingo avacalhava com a equipe nacional. A culpa foi integralmente da mídia? Não, não generalizemos, mas negar o papel colossal dela é querer furtar-se da verdade.  A Williams só se tornou o que veio a ser porque o capital árabe inundou a equipe em 1979 e isso só aconteceu porque além do esforço da equipe, houve ajuda da imprensa britânica que, mesmo diante dos tropeços, fazia uma boa imagem da equipe. O resultado foi que com o capital do Oriente Médio os ingleses dominaram a F1 nos anos 1980 e metade da década seguinte. Com isso fica fácil imaginar porque a imprensa brasileira tanto escarneceu Rubens Barrichello, comparando-o a todo instante com Ayrton Senna que foi um gênio da geração dele, coisa que aparece a cada quinze ou vinte anos.

Ainda sobre o papel da imprensa, dá-nos dicas preciosas sobre questionar aquilo que a mídia expõe como sacrossanta verdade. Diante de uma notícia, questione-se com um simples “será?”. Pesquise em outras fontes, internet e livros, e tente saber através de você mesmo se aquilo que a mídia colocou como ultra-verdade inquestionável é verdade. Por que deveríamos tanto confiar na mídia?

Embora o autor detalhe com primor vários aspectos da mediocridade brasileira, ele não chega abordar a origem dessa mediocridade. O porquê de sermos assim. Olavo de Carvalho já deu uma pista: talvez sejamos assim porque somos um povo carente de atenção, reflexo da falta de confiança do povo português que foi invadido várias vezes por outros povos.

Brasileiros Pocotó é uma leitura agradável, gostosa e impactante. Se você procura saber mais sobre o nosso país através da visão de outro compatriota que (apenas) tenta ver as coisas como são, esse é um ótimo livro.

O Ministério da Atitude adverte: mediocridade faz mal à saúde.

Silas Malafaia no “Na Moral”

bial_e_religiososMuita calma nessa hora. É bom explicar que o debate foi sobre o estado laico e não uma entrevista com o pastor evangélico Silas Malafaia. A distinção se faz necessário, já que o pastor simplesmente roubou a cena mais uma vez, assim como aconteceram no Super Pop com a apresentadora (sic) Luciana Gimenez, no De Frente com Gabi e no Programa do Ratinho. E antes que alguém diga que estou defendendo o pastor, que sou seguidor fanático dele ou algo parecido, explico que o pastor deixa os outros convidados na sombra porque simplesmente fala o que muitos, crentes ou não, gostariam que as autoridades públicas falassem. A opinião de Malafaia destoa do politicamente correto, da ditatura de opinião disfarçada de democracia pacífica.

Não vi o programa na Globo. Na verdade sabia que aconteceria, mas perdi a data. Ainda bem que assim aconteceu, pois eu teria uma bela oportunidade de sintonizar meu televisor nesse canal lixo, com esse programa lixo, apresentado por um pseudo-intelectual e me arrepender depois.

O programa começa com Bial perguntado a Daniel Sottomaior sobre a relação entre estado e religião. Foi uma bela pergunta, mas respondida de forma completamente infantil pelo líder da maior associação de ateus do Brasil. Responde que os Estados eram regidos com a ajuda das religiões, o que é claro feito água, já que a maioria dos países foram fundados pela religião. Impossível separar as relações oficiais de um estado se ele foi fundado pela religião. Responde ainda que esse estado teocrático sempre oprimiu os diferentes e usa a Revolução Francesa como marco separador das relações estatais com a religião. Ah.. tadinho. Se porventura ele quis fazer as pessoas lembrarem da idade das trevas com essas palavras, se deu mal. Por que uma nova geração de historiadores, atestam que essa época não foi tão tenebrosa assim e os milhões de mortos pela Igreja Católica não passam de quinze mil condenados em dez séculos. A própria Revolução Francesa matou dez vezes mais, cerca de 150 mil. Não que quinze mil seja um número desprezível, mas comparado com aqueles milhões que aprendemos ao longo do processo acadêmico é bem menor.

Silas responde sem viés: os estados que pregaram a exclusão total das religiões foram os mais assassinos. Esses sim fizeram um banho de sangue. Não há o que se argumentar sobre isso. Nas contas do ateísmo comunista está pelo menos 200 milhões de pessoas, com a extinta União Soviética com quase 50% desse total. Cuba, o paraíso latino americano, mandou para o paredão ao menos quinze mil pessoas. Che Guevara, o herói de muitos, era racista e homofóbico. Ele sim dizia que negros e homossexuais deveriam ser extintos. O genocídio cristão ensinado nas escolas e universidade nem de longe de assemelha com o promovido por Lênin, Stálin, Hitler, Fidel e companhia. O senhor Daniel tenta esconder isso dos jovens adeptos do neoateísmo, não relacionando uma coisa com a outra. Ele tenta mostrar que existe um ateísmo bonzinho que pode viver pacificamente com as religiões. Mas no fundo sabe que isso é impossível. Ou a religião preenche o espaço dela na sociedade naturalmente como foi desde o início dos tempos ou ela é perseguida até o último instante por um estado ateu.

O ateísta Daniel, em outra oportunidade, explica que o crescimento evangélico se dá por conta da teologia da prosperidade. Já que a pessoa não tem nada, vai lá na igreja que nela ao menos é enganada e assim vive bem. Só faltou dizer a famigerada frase a religião é o ópio do povo. Novamente foi repreendido por Silas, e com razão. O pastor disse que se assim fosse, todos já estariam ricos ou há um monte de tolo nas igrejas sendo enganados há mais de 40 anos. Pergunto-me como um sujeito que se diz líder dos ateus no Brasil consegue fazer uma observação tão estapafúrdia dessas, sendo nenhum estudo, pesquisa, qualquer coisa que a comprove. Puro achismo!

Nesse momento da entrevista, o pastor desafiou o ateu a mostrar o espelho do imposto de renda. Silas já fez isso nos tempos da entrevista com Marília Gabriela. Minutos após o fim do programa, lá estava nos portais de notícias: “Pastor Silas Malafaia causa polêmica ao enfrentar ateu” e “Debate acalorado entre pastor e ateu levanta audiência na Globo”. Nem outra resposta de Daniel Sottomaior deu. Ficou acuado, coitado, e respondeu um tímido com certeza.

O nível de polêmica nesse país e tão medíocre que só fato do pastor querer comparar o espelho do IR dele com o do ateu, já causou o maior alvoroço. Polêmica por essas bandas é alguma coisa envolvendo futebol e/ou novela apresentado pelo Faustão ou Fantástico. Polêmica: Neymar corta cabelo e deixa franja. Polêmica: Betty Faria vai de biquíni à praia aos 72 anos.Polêmica: Luan Santana usa gola vê.  Silas Malafaia choca porque diz simplesmente algo diferente do mostrado na mídia. Se certo ou errado, uma breve pesquisa na internet resolve a coisa. Certamente se o programa fosse sem ele, o programa teria sido um bate-papo entre amigos, sem nenhuma discordância relevante, mesmo com um padre entre os convidados.

O padre Jordão e o babalorixá Ivanir dos Santos tiveram participação tímida. Não quiserem entrar no olho do pequeno atrito entre Silas e Daniel. O padre católico foi enfrentado por Sottomaior quando este disse que a Igreja nunca fez anda para combater a escravidão. O padre, com uma voz suave, responde que a escravidão naquela época era uma desgraça e que a Igreja nunca apoiou o sistema. Nesse ponto do debate o ateu levou vantagem, não por dizer uma verdade absoluta, mas sim pela falta de uma resposta convincente do padre. Se este tivesse dito que a escravidão foi sim uma desgraça na cultural ocidental e em parte não combatida pela igreja romana, mas dizendo que a abolição dos escravos foi fortemente incentivada pelos cristãos e ainda dizendo que os gulags soviéticos escravizaram mais do que o tráfico negreiro ocidental, aí sim o senhor Daniel teria passado mais outra vergonha. Sobre a expressão Deus seja louvado nas notas do dinheiro brasileiro, o padre foi inteligente ao dizer que ninguém critica a deusa romana que tem muito mais destaque do que a expressão citada.

Silas Malafaia e o babalorixá Ivanir dos Santos também protagonizaram enfrentamentos quase de ordem espiritual. O líder da umbanda disse que os cristãos são preconceituosos com os adeptos das religiões afro. Silas responde que o verdadeiro cristianismo não incita ódio contra pessoas de outras crenças e se um pastor entrar em um terreiro de umbanda para ofender outras pessoas é digno de cadeia. Silas responde também que os evangélicos também são alvo de preconceito, já que durante muito tempo não foram chamados para debates, coisa que só vem acontecendo nos últimos tempos. O babalorixá faz um convite ao pastor para juntos fazerem uma caminhada contra a intolerância religiosa, dizendo que se crianças verem o exemplo aceitarão com maior facilidade o ecumenismo religioso. Silas aceita desde que não haja viés político. Coisa praticamente impossível. Disse que o debate entre o babalorixá e o pastor quase ganha um tom espiritual porque Ivanir diz que os umbandistas são mais do que 1% da população, contrariando Bial baseado no IBGE. Seriam mais de 1% porque não são apenas umbandistas, mas também católicos. Então está explicado porque o babalorixá veio com um discurso de união: sincretismo religiosos é algo nato da umbanda brasileira. A Igreja Católica permitiu isso desde os primeiros tempos do Brasil. Já a mesma coisa não acontece com o protestantismo. O babalorixá reclama que não há respeito dos cristãos para com os umbandistas, pois esses são estigmatizados como demônios. Ora, no campo espiritual é isso mesmo, essas duas religiões nunca se darão bem. O que o babalorixá na verdade pede é sincretismo religioso e não tolerância. Pedir que uma determinada religião não cite os inimigos espirituais é querer silenciá-la.

A participação de Bial foi aquela coisa de sempre: esfriar o debate que poderia se tornar mais quente se fosse mais longo. Quando Silas e Daniel começam a se pegar, ele chama o pagodeiro Arlindo Cruz para ecumenizar. Esse cantor inclusive dá a opinião dele sobre Jesus: Ele é uma energia. Em dano momento do debate, Bial intercepta Malafaia dizendo que o pastor citava estados ateus e o presente debate era sobre estado laico. Esse é o momento em que o pastor se enrola e não convence. Mas a pergunta que fica é: um estado que priva as religiões de participarem do processo social, caçando especialmente os cristãos, seria laico ou laicista? Silas dá a entender que o Brasil caminha para um estado laicista, pois é o que se vê nas ruas. Bial discorda dizendo, dando a entender que o debate era sobre algo que não estava acontecendo atualmente na sociedade, dando a entender que seria algo hipotético de acontecer.

Percebo que o debate sobre estado laico vem ganhando força nos últimos anos. Mas por quê? O Brasil não é de fato um estado laico? Em junho e julho últimos muitos manifestantes foram às ruas pedir um estado laico. Feministas e ateus juntos marcharam contra a Jornada Mundial da Juventude pedindo estado laico. Mas novamente pergunto: o Brasil já não é laico? Ah, então o que no fundo eles querem não é um estado laico, mas sim um estado laicista. Um estado ateu. Um estado no qual as manifestações religiosas e o pensamento religiosos sejam totalmente excluídos do debate nacional, vigorando apenas Marx e companhia.

Stálin curtiu isso.

Hitler: o eterno vilão

abril-hitlerLá estava eu passando por uma banca de jornais (ou de revistas) e me deparei com duas publicações da editora Abril: “A história da humanidade segundo a Mundo Estranho” com Hitler no centro da capa e “Nazismo”, esta última edição com uma capa diferenciada (não sei o nome do tipo de papel ou formação que se dá a ele, mas é aquele tipo no qual dependendo do ângulo de visão, a figura em questão muda; no caso de Hitler na capa, mudando um pouco de posição é possível ver uma caveira vermelha). Dois meses atrás, na revista Aventuras na História, da também Abril, vi uma matéria intitulada “como funcionava o partido nazista”. A revista Super Interessante, da mesma editora, já teve como capa várias vezes temas relacionados ao nazismo ou à figura de Hitler. Pergunta: por que sempre manter viva essa figura do líder alemão? Para os mais afoitos, a reposta pode ser simples: ele matou seis milhões de judeus e isso merece ser reavivado todos os dias para que o mal não se repita. É verdade. Mas não é tão simples assim.

Hitler nos foi ensinado na escola que ele foi um líder que ganhou as massas, que matou milhões de pessoas, em especial os judeus, que foi aliado da Itália de Mussolini e que foi derrotado pelos Aliados. E ponto final. Perguntas simples nunca foram feitas ou sequer criou-se o ambiente adequado para que elas surgissem dentre os alunos. Uma delas séria: como pode Hitler ter ganhado a Alemanha, armando-a após a colossal derrota na Primeira Guerra Mundial e ter conquistado toda a Europa? O que não nos contaram foi que Hitler era socialista, mais precisamente do tipo nacional-socialismo. A partir disso, todo o resto fica mais fácil. Ele recebeu apoio dos soviéticos com armamento, treinamento e matérias-primas e, quem diria, dos americanos, com ajuda financeira. Herry Ford era simpático da eugenia nazista e conforme o livro “The Nazi Nexus”, ele mandou muito dinheiro para a Alemanha. Dessa forma ficou fácil montar todo um aparato social e bélico que ajudasse o nazismo fazer o que fez.

O grupo Abril que integra o grupo privilegiado de onze famílias que detém o poder das comunicações brasileiras faz parte da elite mundial que controla os meios pelos quais se formam a opinião das massas, complementando o sistema educacional. No sistema cultural imposto a nós, é preciso que haja caos, medo, terror e alguns vilões para que medidas sejam tomadas a favor daquela elite. Bin Laden e Saddan Hussein foram vilões muito úteis. Treinados pela CIA, tornaram-se inimigos dos americanos que tomaram iniciativas diante dos perigos que eles criaram. Já que não surgem vilões, criemo-nos para alcançar nossos objetivos.

A memória de Hitler é proveitosa para o atual sistema educacional e midiático, pois ele encarna tudo o de ruim que a humanidade teme (ou temia). É o vilão citado nas salas de aula. Ele matou negros, homossexuais, ciganos, judeus e testemunhas de Jeová. Ele serve definitivamente para atiçar o ódio de jovens que integram as massas que odeiam o inimigo do estado socialista: os conservadores, fundamentalistas, reacionários, direitistas e religiosos cristãos. Não é difícil encontrar um acéfalo que chame alguém de “nazista” ou “fascista” quando um não compactua com os ditames do atual sistema. Mal sabem que, conforme o historiador Fraçois Furet, nazismo e fascismo são filhotes do comunismo, alimentados pela União Soviética. Essa nação que sim, criou os maiores vilões da humanidade e que abraçou o ideal marxista e o pôs em prática. Conforme a (nova e não contada) história, Stálin e Lênin juntos mataram e/ou deixaram morrer pouco mais de 90 milhões de seres humanos. Mao Tse Tung, na China, 65 milhões. A ilha de Fidel, Cuba, contabiliza ao menos 15 mil emparedados.

E por que não fazem esse comparativo nas escolas, nas faculdades, na TV ou nas revistas e jornais? Simples. Todos eles são parte do sistema simpático ao socialismo/comunismo e que omitem essas informações para que o povo, devidamente alienado, não tenha o poder de comparação temporal e geográfico. George Orwell ensinou na fábula “A revolução dos bichos” e na distopia “1984” que é necessário um vilão, mesmo que imaginário, para que a elite se mantenha no poder. Para manter as massas amedrontadas e conseguir delas o aval necessário para os avanços totalitários. Os bichos, cercados dentro da fazenda, ou os proletas, aprisionados em Oceania, não tinham como contestar os vilões apresentados a eles, pois não tinham os mecanismos necessários para fazer comparações e concluir se aquilo era verdade ou não, se era proporcional ou não aos fatos apresentados.

Hoje somos livres, porém insipientes, o que por consequência nos torna escravos da ignorância. Ao confiar demais nos meios de comunicação e no sistema cultural, entregamos nossas consciências a essa elite. Os grilhões da burrice podem ser quebrados com uma simples pesquisa na internet ou uma ia à biblioteca. Mas não é isso que as massas querem. Se as cercas da fazenda de Orwell fossem retiradas, os bichos buscariam outro lugar melhor. Se não houvesse a vigilância onipresente do Grande Irmão, os proletas fugiriam para outro país. Nesses dois casos, retirando-se a pressão exercida sobre as massas, a consciência volta quase que imediatamente. Mas diferente do mundo de Orwell, vivemos no Admirável Mundo Novo de Aldux Huxley, no qual somos condicionados desde a infância a amar o sistema e se for preciso, defendê-lo.

Hitler foi apenas uma marionete, uma espécie de bode expiatório para alavancar o totalitarismo no mundo. Funcionou.

O que os Estados Unidos querem espionando o Brasil?

obamaNo mês de junho passado, uma notícia não ganhou a devida repercussão que deveria ganhar: um agente de informações da CIA, Edward Snowden, revelou que os Estados Unidos, através da NSA, Agência Nacional de Segurança, estavam realizando espionagem em diversos cantos do mundo, inclusive o Brasil. Segundo as informações averiguadas, o Brasil foi o segundo país mais espionado no mundo pelos americanos. Dentre outras nações que foram vítimas estão a França e a Alemanha.

Conforme as notícias da grande mídia, os americanos montaram um escritório em Brasília e com anuência de operadoras de telefonia checaram milhões de ligações telefônicas e e-mails de brasileiros. Imediatamente o governo brasileiro, acuado com as manifestações populares, deu uma resposta (ainda) genérica sobre o caso, pedindo que a Polícia Federal verificasse o teor das informações compartilhadas. Divulgou ainda a imprensa que o governo brasileiro iria cobrar explicações dos Estados Unidos sobre tal situação. Renan Calheiros, presidente do Senado e outros parlamentares cobram mais explicações. No entanto, ninguém, absolutamente ninguém faz a pergunta de um milhão de dólares (ou reais para os mais patriotas): afinal, o que os Estados Unidos querem do Brasil com essa espionagem?

Nosso sistema educacional, devidamente realizado por socialistas, ensinou-nos que os americanos são porcos imperialistas, capitalistas genocidas e inimigos da democracia. Hugo Chávez que o diga. Mas fazer um fantoche de qualquer pessoa ou coisa é fácil: basta reunir os erros daquela pessoa e pronto, há um belo inimigo para ser odiado. Mas parando para pensar brevemente, nota-se que os Estados Unidos são o sustentáculo da democracia, sobretudo no Ocidente. Sem os ianques, provavelmente viveríamos tempos tenebrosos nas mãos de seres piores do que imaginamos que os americanos sejam. O que quero dizer é que os EUA possuem erros e acertos como qualquer outro país.

Uma nação pode ser amiga ou inimiga de outra e isso dependerá de vários aspectos. Olhar apenas para um dos pólos da relação é realizar um exercício de injustiça. Se os EUA são a maior nação do mundo, é natural que eles exerçam muita influência ao redor do globo e naturalmente irão querer expandir essa influência. Dentre muitas coisas envolvidas estão as riquezas naturais. Sabendo que o Brasil é rico nesse quesito, a visão mais pragmática que poderíamos ter seria de que eles não querem que nós cresçamos para não fazer frente a eles. Mas isso só se concretizaria caso o Brasil, povo e governo, aceitasse, no amor ou na dor.

Somos uma nação riquíssima. Há 513 anos somos explorados como uma colônia, mas o Criador foi tão generoso com essas terras que ainda há muito a ser explorado. Temos uma imensidão de terras cultiváveis, uma das maiores percentagens de água doce, um litoral com capacidade econômica enorme, diversos tipos de minérios, a floresta amazônica que com as riquezas da fauna e flora possui um colossal potencial para pesquisas e patentes, sem falar no povo criativo que somos. Os americanos sabem de tudo isso e sabem que se o Brasil quisesse ser a maior nação do mundo, ela seria. Mas como abordado antes, para que isso acontecesse seria necessária uma intervenção ou colaboração ou as duas coisas ao mesmo tempo por parte do governo e do próprio povo, por mais que fosse por omissão.

Em nossa história econômica, costuma-se dizer que o Brasil nunca alçou voo maior do que de uma galinha. Pula, bate asas com muito esforço, mas voa pouco. O povo foi alijado das grandes decisões políticas e sociais do Brasil: república e independência. Entrega de bandeja a consciência coletiva à programação televisiva que é patentemente um instrumento de engenharia social, mantendo o povo alienado, hibernando em profundo sono para não perceber o potencial que tem. A carta do jogo NWO explicita que os recursos naturais daqui são de importância estratégica valiosa, coisa que o Dr. Enéas Carneiro, célebre candidato à presidência algumas vezes, já dizia abertamente nos anos 1990. No livro, “O relatório da CIA, como será o mundo em 2020”, há uma parte exclusiva destinada ao Brasil, dizendo que podemos ser uma potência mundial.

A resposta não é certa, claro, mas certamente os EUA estavam monitorando as atividades econômicas do Brasil, tais como relações com outros países, acordos bi e multilaterais. Pensando de maneira friamente, os americanos teriam interesse em continuar fazendo do Brasil uma imensa colônia para continuar usufruindo dos recursos daqui. Por conta disso, é pouco provável que atividades de meros cidadãos comuns foram monitoradas. A espionagem americana teve provavelmente como alvo o alto empresariado brasileiro, funcionários públicos de alto escalão, parlamentares e (por que não) até a presidente.

Se isso chegar a ser verdade, será o fim do que conhecemos com soberania. O fim do que chamados de direitos humanos e companhia. Mas, como sempre, nada disso assustará as massas distraídas, pois as notícias são dadas de formas homeopáticas para não assustar o sapo que tranquilamente relaxa na sauna. Já estamos nos acostumando com a falta de privacidade em nível pessoal. Por que isso não haveria de acontecer em nível nacional?

Resenha de “Admirável Mundo Novo”

AMNImaginem um futuro incerto. Tão incerto que a separação dos tempos não é feita mais pelo antes ou depois de Cristo. O novo separador é Ford e a linha de produção criada pelo americano é alçada à potência de mandamento. Esse é o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, romance distópico publicado em 1932 e visto por alguns como uma denúncia (ou profecia) dos planos globais da elite iluminada. David Icke, jornalista britânico, acredita que seja efetivamente uma denúncia do que illuminatis querem fazer com o mundo, uma vez que Aldous Huxley e George Orwell foram socialistas fabianos (corrente do socialismo que acredita na mudança lenta da sociedade através do sistema educacional e midiático). À época em que foi lançado, o livro chocou as pessoas pela forma que certos assuntos foram tratados, sobretudo a sexualidade. Hoje, percebe-se que muito do que é descrito no livro é realidade, é algo normal tão incorporado aos costumes que não assusta mais ninguém caso fossem feitas as mesmas descrições.

O livro possui, claro, personagens centrais, mas o ambiente em que tudo acontece é tão fascinante que, ao menos para mim, os protagonistas tornaram-se coadjuvantes. Mas não é por isso que irei desprezar mínimas considerações sobre eles.

Nesse futuro distante há um Estado Mundial, cujo lema é: Comunidade, Identidade, Estabilidade. Os seres humanos não são mais feito à maneira tradicional, eles são produzidos. Quem não se lembra daquela cena, em Matrix, na qual Mofeus explica a Neo que o humanos não são mais feitos, mas sim cultivados. O raciocínio aqui é o mesmo. Tomando-se o fordismo como princípio, os bebês entram em uma linha de produção e são separados por castas que possuem atribuições compatíveis com o nível social dela. Tudo começa com o processo Bokanovsky que é um procedimento capaz de fazer um ovo fecundado se multiplicar de oito a noventa e seis ovos, criando assim pares de gêmeos perfeitamente iguais. Feito isso os ovos fecundados entram na estreira e são pré-condicionados para as funções que exercerão e separados por catas. Por exemplo, um alfa, casta superior, entra na linha de produção própria dos alfas e ele receberá instruções voltadas para a casta dele, geralmente ofícios de ordem intelectual. Já um ovo da casta delta, receberá dosagens de determinados fluídos e enfrentará condições voltadas para os trabalhos que ele exercerá. Por exemplo, se um delta for condicionado a trabalhar muitas horas em minas de carvão, na linha de produção dele, ele enfrentará momento de exaustão e calor para que desde a fase embrionária suporte as condições que enfrentará.

Um segundo momento do condicionamento dos seres humanos é, durante e após o nascimento, o processo hipnopédico que a transmissão de conhecimento durante o sono. Esse é o significado atual da palavra. No romance, ele é de fato a transmissão de conhecimento para os ovos fecundados ou para os bebês. Um exemplo é um beta ouvir centenas de vezes ao longo do condicionamento dele a expressão: “Sou feliz por ser um beta. Os alfas são mais inteligentes do que um beta. Não possuo nenhuma inveja dos alfas. Sou feliz por ser um beta”.

Tudo isso serve para que haja a estabilidade social, evitando assim conflitos entre os diversos tipos de indivíduos das cinco castas existentes.

Em um momento posterior ao condicionamento, os bebês são postos em salas e levam choques ao se aproximarem de livros e/ou flores. Os diretores dos Centros de Incubação e Condicionamento, ou somente DICs, fazem isso inúmeras vezes com as pequenas crianças para condicioná-las a não gostarem de livros e botânica, uma combinação que pode ser fatal para a estabilidade social, já que as flores podem inspirar poesia e estas podem ser passadas para livros.

Outra fase é o condicionamento ao erotismo. Crianças com menos de dez anos são acostumadas com o sexo. E dizer que, no livro, as crianças são condicionadas ao sexo fútil e banal é redundância colossal, pois o sexo é algo realmente fútil, banal e totalmente separado de sentimentos. Às crianças são dados brinquedos eróticos. Se desde crianças, os seres humanos já são condicionados assim, o que será deles na fase adulta? Ninguém é de ninguém. Não existe um padrão de conduta para as relações sexuais como uma simples paquera ou um casamento. Não há uma menção clara à homossexualidade, mas fica nas entrelinhas que é algo normal, quando um diretor de um dos centros de condicionamento de humanos explica a alunos que no passado, para nós o hoje, não havia muito erotismo, salvo um pouco de homossexualidade às escondidas. Pelo fato de ninguém ser de ninguém, os obstáculos que uma conquista pode possuir são injustificáveis. O diretor-professor diz que em nossa época as pessoas sofriam por não terem o prazer de ficarem com quem quisessem. Um aluno relata que certa vez que sofreu semanas para poder ficar com uma garota e que durante todo esse tempo o peito dele doía em agonia. O diretor pergunta: “E não foi doloroso?”. O aluno responde que sim e o mestre explica que agora nos tempos de Ford isso não é mais necessário. Lenina, uma beta, em conversa com aquilo que (hoje) chamamos de amiga, confessa que nas últimas semanas ficou com apenas um homem. É criticada por Fanny que diz: “Um homem durante várias semanas? Onde já se viu… Você precisa ser mais promíscua, caso contrário logo desconfiarão de você”.

Já que não há mais um código de conduta para as relações sexuais, o casamento, e por consequência, a família, são institutos totalmente desnecessários. Tais palavras, casamento e família, são tão repugnantes nos tempos de Ford que chegam a causar ânsia de vômito nas pessoas. As palavras pai e mãe são impronunciáveis, pois remetem a tempos muitos passados e que conflitam os tempos atuais. “Nessa época os seres humanos era vivíparos”, diz o diretor com o desdém que é pertinente ao caso.

Além de não mais existir o sofrimento para obter sexualmente alguém, o sofrimento advindo da falta de recursos para o consumismo também não existe mais. Todos ganham adequadamente bem conforme à casta a que pertence. Um alfa ganha muito bem e poderá obter produtor e serviços dignos da casta alfa e não se sentirá de forma alguma atraído por produtos e serviços de uma casta inferior. A mesma coisa pode ser dita de um ipsílon, casta mais baixa: ele está condicionado a viver com o que tem e aquilo que ganha é o adequado para o sustento dele na casta a que pertence. Os produtos não são reaproveitados. O que estraga é jogado fora e compra-se um novo. Reaproveitar é considerado anti-social. “Quanto mais se remenda, menos se aproveita”, diz um dos lemas.

Para todos os possíveis males, qualquer coisa que possa desequilibrar o sistema, existe o soma. É a única droga que existe e serve para tudo. Depois de muito tempo de pesquisas, os cientistas chegaram ao maravilhoso soma que reúne, vejam só, as propriedade do cristianismo e da cocaína. Fica claro nesse momento a alusão à famosa frase de Karl Marx: “A religião é o ópio do povo”. Todas as castas recebem ao final de um dia de trabalho uma porção de soma. Usa-se a droga na cesta, no piquenique, depois de uma transa, para relaxar, para aliviar o estresse. Uma variedade imensa de tóxicos é desnecessária, haja vista que o soma é capaz de satisfazer todas as necessidades dos usuários. O soma é o refúgio para tudo.

Sentimentos tais como os conhecemos não existem mais. Eles existem, mas em outra concepção, como a atração sexual por outra pessoa ou a obtenção de determinado produto. Assim como o amor (entre duas pessoas, de uma paquera ao casamento) não existe mais, o amor por parentes e amigos é apenas uma lembrança imoral. John, o Selvagem, que vem de Malpaís, é duramente segregado pelos pares do admirável mundo novo porque chora a morte da mãe, Linda. Enquanto ela estava no leito de morte, ele, inconsolável, perguntava-se o porquê daquilo, deixando a enfermeira constrangida a ponto de pedir que ele se comporte de modo mais apropriado. Nessa ocasião, crianças em fase de condicionamento social, invadem a enfermaria, perguntando várias coisas, de John e da enfermeira. O Selvagem tenta expulsá-las, mas é repreendido pela profissional, dizendo ela que se respeitasse o momento das crianças, já que elas estavam apenas sendo condicionadas para a morte. Nesse futuro incerto, o falecimento de alguém deixa de ser algo triste, mas apenas uma fase da vida. Mas não uma fase como um passagem ao além ou como uma desculpa reconfortante aos entes queridos que ficaram, mas é efetivamente algo normal. Ninguém chora a morte de ninguém. Não há no âmago da existência humana o caráter especial da vida. Os habitantes desse novo mundo são coisas, matérias-primas em um processo, desde a concepção até a morte. Após o falecimento, o corpo da pessoa não é mais enterrado, seja como indigente ou respeitosamente pelos parentes, mas sim levado a um centro de reaproveitamento no qual é possível retirar cerca de um quilo e meio de fósforo por corpo. Alguém diz: “Fico feliz em saber que somos úteis até mesmo depois de mortos”.

Por conta da alta tecnologia envolvida e aplicada na fabricação de seres humanos é possível sempre ficar jovem e bonito. Linda, mãe de John, que um dia saiu de Londres, onde é ambientado o mundo novo, é gorda e por isso é motivo de escândalo entre os londrinos. Através de processos de troca de sangue e aceleração do metabolismo, é possível sempre ficar jovem, belo, viril e com a libido sempre em alta até a morte. Bernard e Lenina, aquilo que se poderia hoje chamar de ficante visitam Malpaís, um território isolado da nova civilização onde alguns costumes de hoje são preservados ainda. Lá, encontram um homem velho, algo que lembra um ancião de aldeia. Lenina fica horrorizada: “Como pode? Ele é velho!”.

Em Malpaís há uma mistura de costumes que (hoje) são nossos com o de selvagens, índios ou aborígenes. A religião, nesse território isolado, algo inexistente até na etimologia para os seres humanos fabricados, é uma mistura de hábitos do cristianismo com os costumes religiosos de antigas civilizações. Isso abre margem para aqueles que pensam que a religião é algo passageiro no tempo. O que hoje é religião predominante, um dia será mitologia. Em certa cerimônia, os selvagens se açoitam em sacrifício para vários deuses, e um deles é Jesus. Fazem isso, explica John, para que haja chuva e fartura nas colheitas vindouras.

Bernard Marx, um dos protagonistas do romance, é um alfa-mais que faz perguntas para si que são impensáveis para outros. Durante um passeio com Lenina, pergunta a ela se não sente que às vezes não tem a impressão de que falta algo. Ela surta literalmente, dizendo que ele está ficando louco, que eles têm tudo o que é preciso, que essa conversa é chata e enfadonha e que quer voltar para casa. Na insistência das dúvidas existências de Bernard, ela simplesmente diz: “Pare, pare, pare, por favor”. Não há nenhuma explicação no livro do porquê de Bernard se questionar sobre algumas coisas, sabe-se apenas que ele é um sujeito diferente por duas razões: ele é um alfa, mas não aparenta ser, não é alto e robusto como os membros da casta o são, e por isso não é devidamente reconhecido por outros. Diante de um ípsilon, é necessário gritar para que eles o obedeçam. Sempre tem a sensação de que os outros estão falando pelas costas dele. A segunda razão talvez seja porque ele é psicólogo. Embora devidamente condicionado pelos processos, a psicologia sempre questiona o existencial, o por que e para que. Certa vez reflete: “Eles a tratam (Lenina) como um pedaço de carne. E parece até que ele gosta de ser vista assim”. É um pensamento que vai contra toda a ordem existe. Ele aparenta ter ciúmes dela e considera o fato de ela ser promíscua algo imoral (que na verdade é moral para a nova ordem).

O psicólogo, junto com Lenina, decide passar férias em Malpaís e lá encontram John, um selvagem que possui costumes totalmente diferentes do que determina a nova ordem. Entende-se como selvagem na ocasião como uma mistura de cidadão civilizado com o que chamamos de selvagem mesmo. Gosta de ler, sobremaneira Shakespeare do qual a todo instante faz referências da obra do escritor. Anda só de tanguinha, descamisado, o que é outra coisa impensável no mundo novo. É religioso, acredita em Deus, Jesus, e é, por essência, romântico. Apaixona-se a primeira vista por Lenina e já em Londres, a convite de Marx para experiências comportamentais, vê a oportunidade de possuir Lenina, mas não o faz, porque não é casado com ela. Diante dela nua, John a chama de leviana e prostituta, o que causa surpresa a bela beta e indignação quando uma proposta de casamento é levantada. Lenina se tranca no banheiro diante de surtos românticos e morais do selvagem.

John não se adapta em nada com o novo mundo. Constrange Bernard em uma cerimônia de apresentação, pois o selvagem era o estudo do psicólogo em busca de reconhecimento social, dizendo apenas que não está bem para tal coisa. A mudança de humor do selvagem é algo totalmente estranho, pois para os londrinhos, isso não existe por conta do condicionamento e do soma. O selvagem estranha tudo: o cinema sensível (o que podemos chamar hoje tranquilamente de cinema 4D), o golfe eletromagnético (que se assemelha ao Nintendo Wii), os táxis-helicópteros (hoje facilmente alugados ou comprados por quem ganha muito bem) e principalmente o comportamento das pessoas

No final, John e Bernard, por causa dos vexames causados, são confrontados por Mustapha Mond, um dos nove administradores mundiais. Nesse momento John obtém todas as respostas que pairam na cabeça dele diante do admirável mundo novo. O administrador explica porque as pessoas são condicionadas a não gostarem de livros. Porque não há mais necessidade de religião ou Deus (embora afirme que Ele possa realmente possa existir). Explica o porquê de não haver mais os sentimentos de outrora, a permanência da juventude e o vício (que não é visto como vício) em soma. Tudo, absolutamente tudo, visa a estabilidade social. John pergunta: “Mas é a emoção? A poesia? O sofrimento necessário para a evolução pessoal de cada um?”. “Não é mais necessário”, responde secamente Mond. Tudo o que pode afetar a estabilidade social é proibido. Deparando-se com uma Bíblia na biblioteca pessoal do administrador, John recebe a mesma resposta de antes: que é algo desnecessário e antigo. Não ser mais a nova ordem.

Estou acreditando que Admirável Mundo Novo é uma denuncia de um planejamento, mas também sendo uma profecia de concretização desse planejamento. Parece que os planejadores tinham certeza que o sucesso seria obtido. Durante toda a leitura é possível notar as semelhanças dessas denúncias-profecias de 1931 com os tempos atuais. A sexualidade está totalmente banalizada. O sexo casual, sem nenhum vínculo afetivo, é fato. Há quem diga que isso foi uma evolução natural da humanidade, desprendendo-se de valoreis culturais e religiosos. Quem disse isso foi Alfred Kinsey, ao explicar na obra dele que o humano é um animal castrado por esses valores. Tirando-se esses, fica a sexualidade aflorada, ou seja, ninguém é de ninguém. Os sentimentos cada dia que passa se tornam mais líquidos. O amor por parentes e amigos é não é mais sólido e as relações vivem por um fio. O casamento deixou de ser uma aliança entre os cônjuges e passou a ser apenas um produto que os noivos procuram e compram para celebrar a data. A morte está tão banalizada tanto quanto o sexo, sendo apresentada no horário do almoço em programas policiais como uma mera bobagem com toques de humor. A religião perde espaço quando o ser humano deixa de olhar para si mesmo, quando passa a valorizar mais o carnal e o material. Não há espaço para Deus em um ambiente assim. Embora a ciência, elevada como religião, não prove a existência ou não Deus, ela o faz, dizendo que Ele não existe e ponto final. Certos questionamentos devem ser esquecidos em nome da ordem social. Quanto menos perguntas, melhor para a ordem social. A juventude é prolongada. Melhoramentos na área de saúde, cirurgias plásticas e técnicas de estéticas permitem que nós hoje possamos enganar o tempo, fazendo da velhice algo nojento, asqueroso e, se possível for, evitável.

Não quero aqui parecer pessimista em demasia, generalista ou empolgado pela leitura do livro, mas Admirável Mundo Novo expressa algo, se não por completo, em parte do que estamos vivendo atualmente. O socialismo é palpável na primeira página quando é citado o “Estado Mundial”. O condicionamento humano é visível através do sistema educacional e midiático. A educação não ensina o aluno a mergulhar em conhecimentos profundos. Ensina tão somente o tecnicismo necessário para a manutenção dos trabalhos na cadeia produtiva. O ser humano a cada dia que passa se torna apenas em uma peça da enorme engrenagem mundial. A mídia engana deslavadamente, em nossas caras, minuto a minuto, e as pessoas não questionam: aceitam o que os jornalistas escrevem como verdade soberana.

Caso seja do interesse daqueles entender o que está acontecendo com nossas vidas, é imprescindível ler Admirável Mundo Novo. É no passado que encontramos as respostas para o hoje.

Download de Admirável Mundo Novo em PDF aqui.

O país dos revolucionários, parte 3: o gigante não acordou, mas ainda pode

arvore2Estive em um local hoje pela noite e não pude deixar de assistir aos três últimos blocos do Jornal Nacional. Os três foram dedicados inteiramente ao futebol, mais precisamente à vitória da Seleção brasileira contra a Espanha na final da Copa das Confederações. Não vi nenhum jogo dessa Copa. Não por birra, mas porque não tive nenhuma vontade, curiosidade, paixão ou tesão. Simplesmente não tive suficiente desejo para ligar a TV e ver noventa minutos de um time que não me representa mais. Fazia isso quanto eu estava há algum tempo atrás, de certa forma, alienado. Não que hoje estou liberto, mas deixar essas coisas que me distraiam leva tempo. Acredito ser um exercício para a vida toda. De todos os jogos da Seleção, vi apenas os gols dessa final. Foram realmente bonitos, principalmente o segundo, de Neymar, no qual ele viu que estava impedido, deu dois passos para trás, recebeu a bola e mandou um forte chute para o gol. Mesmo assim, nada de arrependimento me palpitou no peito.

Duas coisas patentes aos olhos me chamaram atenção no último mês de Junho: as manifestações e a Copa das Confederações. E lá e cá com meus botões, fiquei me perguntando: o gigante realmente acordou? Não acredito.

Se formos reunir os fatos que observei, chego a conclusão de que ele  não acordou. Pelo contrário: deve estar dormindo mais do que nunca. Quando vi as manifestações, confesso que fiquei assustado. Como isso aconteceu? Não tenho mais Facebook, mas quando tinha, notava uma completa inanição política por boa parte dos meus contatos e das páginas que frequentava. De repente, o gigante acorda e vai para as ruas. Algo de estranho há nisso. Ele acorda e vai às ruas dizendo que não possui liderança e que não está vinculado a partido político nenhum. Pergunta: para ser político, é preciso estar vinculado a partido político? O exercício da política pede a filiação partidária? Não. Qualquer um pode ser político, mesmo não sendo membro de uma legenda. Um exemplo disso são as conversas de barzinho, onde não impera sabedoria acadêmica nenhuma, somente popular, mas há políticos, um querendo ganhar o debate do outro, ainda que sem razão ou fundamentos. A política, digamos, oficial, essa sim exige filiação partidária. Ir à urna vota é outro exercício de política. Escolhe o candidato que mais se assemelha com nossas orientações.

Não acredito que uma consciência política toma conta de cada cidadão desse país. Como esse gigante poderia acordar se antes do surto dos movimentos violentos em São Paulo ninguém fazia absolutamente nada? Pelo contrário, alimentava o monstro da alienação, dando ibope ao vilão Félix da novela ou ao futebol de quarta e domingo? Como o gigante acordou, se o conhecimento político do brasileiro comum resume-se naquela boa conversa de bar? Como isso é possível se a média de leitura dos brasileiros não passa de quatro livros anos ano? Como ele despertou se quase 80% dos brasileiros são analfabetos funcionais? Como ele levantou do leito se 37% dos universitários são analfabetos funcionais? Como esse gigante despertou, sem um tapa na cara, sem uma liderança que o dissesse que o combate contra a corrupção não se faz com cartazes com cerquilhas, máscaras de Guy Fawkes ou cantando o hino nacional sem direção? Esse patriotismo que nasceu de uma hora para outra me assusta. Ninguém é patriota nessa nação, exceto em temas futebolísticos e, se somente se, a Seleção estiver ganhando.

Todas as constatações de que preciso para afirmar que o gigante realmente não acordou foram vistas pelos meus olhos enquanto assistia ao Jornal Nacional. Estádios lotados com milhares de pessoas felizes. Nessas horas se esquecem de tudo: das obras nos estádios superfaturados, do caos na saúde e na educação, dos conflitos com a tropa de choque das políticas militares, das licitações fraudulentas, dos governantes corruptos e da reforma política que é sorrateiramente planejada em Brasília. Mas um dispositivo foi criado pelo sistema para afastar qualquer tipo de pessimismo durante esses tempos de bola rolando: de que esse protesto não é contra a Seleção, mas contra a corrupção. Pronto. Cria-se com isso um remédio para todos os males e livra a seleção canarinho de qualquer culpa. De fato, os jogadores não têm culpa nenhuma. Por que teriam? Mas quando se fala em Seleção, ao menos para mim, tudo é posto num balaio só: mídia, jogadores, CBF e governo. Os jogadores e a comissão técnica são apenas uma parte da estrutura que pode ser afastada do caos durante um tempo, possuindo atribuições de trazer felicidade a essa nação sofrida. Mas ainda tenho por mim que em algum momento, Felipão e Parreira receberam ligações, exigindo-se uma vitória para acalmar os ânimos fora dos estádios.

O mesmo povo que foi às ruas protestar contra a corrupção, é o mesmo que faz gato de água, luz, TV a cabo, cola nas provas, compra monografia, oferece um guaraná para o guarda de trânsito, acompanha atentamente a novela e torce religiosamente para um time do coração. Repito: o gigante realmente acordou? Caso acordou, está grogue pelo tempo hibernado? Sim, pois enquanto o país vibrava com os jogos da Copa, vários movimentos juvenis partidários, inclusive o MPL que acendeu a fagulha, estavam se reunindo no Palácio com a Presidente Dilma reivindicando sabe-se lá o quê. Esses movimentos juvenis, vinculados a partidos políticos, estavam fazendo política em nome de um povo que se disse apartidário e sem representação. Talvez até eles não estivessem representando ninguém, somente a si mesmos. Usaram a massa de revoltados em proveito próprio. Sabe-se apenas uma coisa: que Brasília, conforme a mídia divulga abertamente, trabalha freneticamente para uma reforma política que não foi pedida pelo povo na rua. Esse povo pediu o fim da corrupção. Mas como o sistema é astuto, fará dessa reforma política um decreto que prometerá acabar com a corrupção. E isso não irá funcionar, já que a corrupção não é uma entidade corpórea que possa ser atingida com uma faca no peito. A corrupção é praticada por pessoas. Para acabar com a corrupção é preciso dar nomes aos bois.

Novamente: não acredito que o gigante acordou. Não por ser pessimista, não por ser uma pessoa do contra, mas porque acredito que uma mudança só é possível com a reflexão pessoal de cada um, assim como ando fazendo nos últimos anos. Mudanças rápidas não favorecem os reclamantes, mas somente aos que já estão no poder. Não adianta pedir para que uma árvore ruim dê frutos bons. Ou come-se os frutos estragados e verdes, e nos contorcemos com dores no intestino, ou plantamos uma nova árvore boa, esperamos humilde e pacientemente ela crescer, para que possamos provar de bons frutos.

Há uma passagem bíblica que invoco nesse final  que diz a mais pura verdade em que vivemos: não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.

Plantemos uma árvore boa, não para nós, mas para nossos filhos.

Uma forcinha do Profissão Repórter

profissaoDispus-me a ver o programa global Profissão Repórter. Sim, dei 30 minutos de minha atenção e gerei audiência para a Globo, mas foi necessário. O que assisti foi apenas a confirmação do que comentei nos artigos passados e o que é comentado na blogosfera não esquerdista.

Iniciado o programa, Caco Barcellos, é quase linchado. A Rede Globo é insultada e o repórter é expulso debaixo gritos de ódio contra a emissora. Nem precisa eu dizer que tenho total desprezo pela vênus platinada, mas expulsar a imprensa vai contra o movimento que está nas ruas pedindo democracia e liberdade de expressão. Ora, se é assim, deixe que o povo se conscientize e regule a audiência das emissoras. Isso é bem difícil de acontecer face à hegemonia da Globo nesse país, mas democraticamente, esse é o caminho.

Diante dos atos de violência, os repórteres falam incontáveis vezes que tais atos são praticados por um pequeno grupo e que a liderança do movimento pede que os protestos sejam pacíficos. Ué, mas não estão pedindo que todos compareçam às ruas? É muita ingenuidade achar que só aparecerá pessoas de boa índole. Ademais, organizações apoiadoras como o Juntos! convoca qualquer tipo de pessoa insatisfeita com o sistema. Isso evidentemente é um chamamento para anarquistas, bandidos, criminosos e congêneres. A cultura socialista, principalmente depois que o PT assumiu o poder, segmentou nosso povo. Hoje não temos mais brasileiros e brasileiras unidos em uma só causa. Somos negros, gays, mulheres, crianças, maconheiros, anarquistas, ciclistas, criminosos, sem-terra, sem-casa, índios, todos querendo puxar a sardinha para o próprio lado.

Muitas pessoas são questionadas durante o programa sobre o propósito das manifestações. Resumem-se a dizer que é contra a corrupção, o roubo, o crime, a bandidagem etc. Não dão nomes aos bois. Não dizem que é contra tal partido ou político. Isso é contraditório com o fato de dizerem que o problema passou dos vinte centavos da tarifa do transporte público de São Paulo. Um rapaz repete aquilo que um vlogueiro famoso disse: que esperou a vida toda por isso; de ver o brasileiro indo à rua pedindo um país melhor. Sim, mas até uma criança quando chora para mãe sabe o que quer: um sorvete ou um vídeo game. Ela não diz, “Mãe, eu quero alguma coisa para parar de chorar porque estou chorando”. Dizia um cartaz: Estamos aqui pelos nossos direitos. Quais direitos? São muitos. A ordem jurídica brasileira nos artigos 5º, 6º e 7º, garante-nos vários direitos. Isso para citar os regulados em lei. Pois o mesmo socialismo que é criticado pelo povo e governa o país, transformou qualquer coisa a ser querelada. Exemplo disso é que os gays passaram a dizer que o casamento é um direito fundamenta, quando a instituição civil (e religiosa), casamento, nunca ganhou contornos jurídicos ou sociais de direito fundamental. Os maconheiros dizem que a legalização da erva traria promoção social. O socialismo torna as palavras em sentidos relativos que são usadas em uma ou outra situação conforme a conveniência e oportunidade.

Outro jovem diz que está na rua representando o bisavô que nos anos 1960 integrava o MR-8 e que foi preso enquanto reclamava nas ruas. MR-8, para quem não lembra, foi um grupo revolucionário que contou a ajuda de Carlos Lamarca, desertor do Exército brasileiro. Em outro momento o repórter entrevista um grupo de senhores de idade, perguntando o que eles achavam dessa juventude que protesta. Eis que eles respondem que fizeram parte da juventude comunista que lutou contra a ditadura.

Do que os manifestantes reclamam? A Globo dá a maior força ao comunismo, ao socialismo, exaltado heróis, e ainda é criticada. Não sejam ingratos.

“O país dos revolucionários, parte 2” ou “O que querem os revolucionários?”

vivaJá comentei brevemente em outros artigos sobre a mentalidade revolucionária do brasileiro. É importante esclarecer alguns conceitos diante dos acontecimentos que tomaram conta das ruas brasileiras nos últimos dias. Farei uma recapitulação.

O que é revolução? Em poucas palavras, é a mudança de um paradigma para outros de forma rápida, fazendo oposição ao conservadorismo que decide por manter as coisas como estão com pequenas mudanças diluídas ao longo de muito tempo. Exemplo máximo de revolução é a Francesa que decapitou a burguesia e a Russa que fez o mesmo com a elite czarista. Karl Marx propôs a revolução do proletariado. Essa deveria pegar em armas, tomar o poder da burguesia, assumi-lo, implantar o socialismo (usando no início o aparato econômico e social do capitalismo) e depois implantar comunismo. O plano do alemão não deu certo exatamente do jeito que ele queria. Na Primeira Guerra Mundial os trabalhadores pegaram em armas para defender a elite (burguesa). Isso fez com que os comunistas (a esquerda) caíssem em uma reflexão para saber por que isso aconteceu. Antônio Gramsci, fundador do partido comunista italiano, ofereceu a proposta da revolução cultural que se faria ao longo do tempo, pacientemente, através dos meios de comunicação e pelo sistema educacional. Nota-se no conceito de revolução do italiano, que ele usa, digamos assim, a plataforma do conservadorismo. Mas há uma grande diferença. Enquanto o conservadorismo propõe um crescimento social e econômico sólido construído ao longo de muitos anos, o socialismo de Gramsci é o caminho inverso: fazer uma destruição lenta e contínua da sociedade, domesticando-a silenciosamente, a tal ponto de tomar o poder sem que as massas notem. Na revolução cultural não há um golpe comunista como foi o de Lênin: “Pronto! Tomamos o poder! Agora essa nação é comunista!”.

O Brasil foi um país em que a revolução cultural deu muito certo. Após a instalação da União Soviética, o pensamento comunista alastrou-se pelo mundo. Isso fez com que George Orwell, jornalista e escritor, denunciasse a leniência da imprensa inglesa quanto aos absurdos praticados na URSS. Isso o inspirou a escrever “A revolução dos bichos” e “1984”. O comunismo chegou por aqui através da Revolução Cubana. Os comunistas daqui realizaram a Guerrilha do Araguaia que possuía, em escala menor a princípio, realizar uma revolução nos moldes leninistas e maoístas. Não deu certo. Os militares brasileiros venceram a batalha e fizeram com que os comunistas brasileiros caíssem em uma reflexão e adotassem a revolução cultural de Gramsci.

Adotado esse novo procedimento, os comunistas e simpáticos à tal ideologia tomaram conta do sistema educacional e da imprensa. Os jornais batiam forte no regime, enquanto as universidades formavam, silenciosamente, o pensamento revolucionário das futuras gerações. Hoje a massa revolucionária está formada e o dito cujo pensamento está presente em quase tudo. É comum usar a expressão revolução quanto se diz que é preciso mudar alguma coisa. Outro ponto que indica esse pensamento é o desejo de se obter mudanças rápidas. Todos querem que tudo melhore da noite para o dia: educação, saúde, segurança, transportes, políticas, estradas, economia etc. Nas conversas em que tenho com algumas pessoas, noto um prazo médio para dar aos governantes para que tudo fique lindo e maravilhoso: dois anos. É um número mágico. Talvez seja por que dois anos seja a metade de um mandato político do executivo. Só que não é possível mudar uma nação em apenas dois anos. É possível iniciar uma jornada que levará anos para que resultados visíveis sejam utilizados pela população. Mas alguém pode dizer: Mas na Europa, em governos socialistas, eles têm serviços de qualidade. É verdade. Possuem mesmo. Mas só que é um detalhe que distância em anos-luz nós dos europeus. Lá, o socialismo se aproveitou da sólida formação econômica construída por outras ideologias políticas, mormente o conservadorismo aliado à ética protestante e o espírito capitalista. Sem citar o fato de a Europa existir há muito mais tempo que o Brasil. Mas isso não justifica muito, uma vez que os Estados Unidos e Austrália foram colônias e hoje são o que são.

Chegamos a seguinte conclusão: os manifestantes que tomam conta das ruas nesses últimos dias pelo Brasil afora possuem uma mentalidade revolucionária porque foram condicionados a serem revolucionários desde criança, passando pelo ensino fundamental e médio e chegando à universidade. Mas só que eles querem bons serviços com qualidade. Mas infelizmente esses serviços não podem ser transformados de péssimos para ótimos da noite para o dia ou em um espaço pequeno de tempo: dois anos. Eis aí a confusão feita pela ideologia de Gramsci. Ele conseguiu elaborar uma destruição da cultura burguesa, implantar lentamente o pensamento revolucionário, mas não calculou se o tiro saísse pela culatra, ou seja, e se o povo não for enganado no tempo suficiente, ele vai acordar, e se acordar como domá-lo, já que irão querer uma mudança radical na mão contrária?

As ideologias, abordadas aqui, podem ser exemplificadas assim (mas não com uma metáfora futebolística): o conservadorismo constrói um prédio de vários andares lentamente. Alguém já viu um prédio ser levantado da noite ara o dia? Não é possível. É preciso analisar o terreno, construir as fundações e só depois disso começar a levantar o prédio propriamente dito, a parte visível dele. O leninismo, revolução nos moldes marxistas, é o sujeito que coloca dinamite em vários pontos do prédio construído e o implode. Já o de Gramsci é um sujeito que com uma picareta começa a destruir o prédio pelo último andar, derrubando parede por parede, até o térreo, levando para fazer isso, anos e anos.

O gatilho das manifestações no Brasil foi um aumento da tarifa de ônibus em São Paulo para R$ 3,20. Imediatamente a coisa chegou ao Rio de Janeiro. Depois Belo Horizonte, sul, nordeste e norte. Patente ficou que as manifestações ganharam um contorno maior do que as reclamações contra a tarifa de ônibus. As manifestações, dentro do país e no exterior, pedem agora melhor saúde, educação, combate a corrupção e desprezo pela Copa e Olímpiadas. Temos o seguinte cenário: população com mentalidade revolucionária (socialista) combatendo os governantes (socialistas). É um combate dentro da própria esquerda. Isso me faz lembrar das citadas obras de Orwell, ”Revolução dos Bichos” e ”1984”. No primeiro, o porco Bola de Neve, que fez parte da revolução dos bichos, é expulso por outro porco, Napoleão. Foi uma briga interna na vara. Em “1984”, o grande inimigo do Partido era Emmanuel Goldstein. Os dois personagens são referências a Leon Trotsky, integrante do governo comunista russo que foi expulso por Stálin. Uma briga interna. Não é à toa que a nova história evidencia que quem mais matou comunista foi os próprios comunistas. No último domingo, 16/06/2013, Mayara Vivian, uma das líderes do Movimento Passe Livre, admite que conta com ajuda de uma série de partido políticos. E no momento em que ela fala, aparece Plínio de Arruda Sampaio, fortíssimo e influente integrante do PSOL e que também foi um dos partidários fundadores do PT . Veja aqui.

Mas é claro que há envolvimento partidário! É fácil notar bandeiras do PSOL e PSTU. Bandeiras da CUT também já foram fotografadas, bem como do movimento Juntos! que tem como uma das líderes Luciano Genro (ex-PT), filha de Tarso Genro, atual governador do Rio Grande do Sul. Pesquisa do Data Folha de hoje, 18/06/2013, diz que 84% dos manifestantes não tem ligação com partidos. Veja aqui. Nem é preciso! Para ser um revolucionário socialista não é preciso ter carteirinha de partido. Basta ter sido condicionado pela ideologia gramsciana e entrar no efeito boiada. Não ter uma preferencia ideológica ou partidária nessas horas é pior do que ter uma, pois se fica sem orientação.

O que os manifestantes querem? Querem, por exemplo, o fim da corrupção. Então eles irão negociar com os governantes para que se acabe com a corrupção? Primeiro, de corrupção e técnico de futebol, cada brasileiro tem um pouco, então fica difícil exterminar a corrupção já que, como disse a deputada Cidinha Campus, ela está no DNA do brasileiro. Veja aqui.  E segundo, para acabar com a corrupção, pelo menos do governo, deve-se tirar os atuais governantes que em sua maioria, se não for na integralidade, são socialistas. Pedir que um socialista torne-se honesto, como diria o jornalista Olavo de Carvalho, é querer encontrar o quadrado redondo. Para completar, os manifestantes revolucionários dizem querer fazer tudo com ordem pacífica e com paz. OK. Digamos que seja verdade, embora haja uns loucos no meio deles. Explica como é que haverá uma revolução, uma mudança que acabe com a corrupção e que melhore os serviços públicos, sem que haja efetivamente uma posição partidária contrária ao poder vigente? Não acontece. É tirar um socialista corrupto do poder e substitui-lo por outro.  Na França, semanas atrás, partidos conservadores foram às ruas com a população contra medidas civis impostas por um governo socialista. Como realizar uma revolução sem violência, se embutido ao conceito de revolução está o de violência? Você defende então a violência? De jeito nenhum! Revoluções com matança só geram mais mortes, vejam as revoluções francesa, russa e chinesa. Outra coisa que evidencia a personalidade revolucionária do brasileiro: não há uma proposta efetiva. Há uma ilusão do tipo, transporte gratuito. Coisa que nem Alice sonha.

O que fazer então? Dar nome aos bois. Quem destruiu esse país? Quem impediu que nós crescêssemos? Quem nos endividou com diversões públicas por mais de 30 anos? Se o governo atual é o causador disso, então que o tire de lá. Só sairemos daqui quanto o prefeito, governador ou o presidente renunciar! Só sairemos daqui quando o mensaleiros forem postos na cadeia! Só sairemos daqui quando houver novas eleições. Não há nada disso nas fotos e vídeos. Há, pelo contrário, a turma pseudo-intelectual, dominadora de mentes juvenis, mandando o povo ir para rua mesmo que não se tenha um motivo. Foi o que disse a turma de celebridades do Youtube, PC Siqueira, Rafinha Bastos e Cauê Moura que nem merecem meu negrito. Esse último inclusive, disse que está emocionado que tem vontade de chorar. Que pela primeira vez tem orgulho de ser brasileiro. Que a moçada saiu do Facebook e foi para as ruas. Foi para as ruas e…? Já expliquei, mas poucos entenderão, pois nessa cultura revolucionária há uma formação psicológica que diz que se você não participar da revolução, você é do contra.

“Saímos do Facebook”, dizia um cartaz de um jovem. Bom, pelo que andei vendo no FB, o que vem por aí não é coisa boa.

Terminando, deixo um post, que não deixa de ser engraçado, do blogueiro Felipe Moura Brasil sobre como pensa o revolucionário brasileiro. Veja aqui.

FHC no Esquenta!

FHCSe há um programa na televisão brasileira que é um verdadeiro lixo aos olhos de quem vê, esse programa é o Esquenta!, apresentado pela Regina Casé. Para mim, é algo intragável e fico imaginando o passa na cabeça de uma pessoa em vê-lo. Um programa que exalta sensualidade pornográfica de forma tão banal que deixaria qualquer animal na natureza envergonhado em pleno cio.

Olhando alguns vídeos no Youtube, deparei-me com essa pérola. Não sei quando foi ao ar (nem faço questão de saber). Mas lá estava o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que agora é um militante “classe A” para a descriminalização das drogas no Brasil (e por que não na América Latina). Muitos se perguntam por que ele não pensou nisso enquanto presidente. A resposta dele, em outras entrevistas, é que nesse sentido ele amadureceu. Fala isso ao lado do ex-presidente norte-americado Bill Clinton que também pensa a mesma coisa. Detalhe: ambos são socialistas. E socialista quer duas coisas: o caos e o poder.

Regina Casé começa no programa dela: “Eu teria mil motivos para convidar esta pessoa para estar aqui com a gente. Eu acho que essa pessoa é a cara do Esquenta! Eu acho que essa pessoa deu o ponta-pé inicial para o Brasil estar com essa cara que a gente está vendo hoje. Para a gente estar falando das coisas que a gente está falando hoje (…). Ele teve a coragem de abraçar uma causa que ninguém queria. Drogas (…)” .

Estou tentado até agora entender o que ela quis dizer. O Brasil estar com essa cara que a gente está vendo hoje. Para a gente estar falando das coisas que a gente está falando hoje. O quê?!?! A cara do brasileiro continua sendo a mesma mostrada na TV. E nós estamos falando de quê? Dos craques de futebol e das fofocas das novelas??? Falou um quilo, nem disse nem uma grama.

Regina pergunta a FHC o que ele sente de diferente na população brasileira, comparado o hoje com a época em que ele chefiava o país. Ele responde que hoje as pessoas têm mais dignidade e que muitos estão dizendo sem medo o que são. O que ele quis dizer com isso? Será que ele se referiu às várias segmentações sociais que hoje há no Brasil? Fala ainda que o povo tem mais esperança do que ontem. Só faltou ele dizer “Yes, we can”. Lembra duas coisas que marcam a trajetória política dele. Primeiro a liberdade. “Essa juventude de hoje não sabe o que foram os tempos de repressão da ditadura”. Ou seja, resgatou (ou criou) o velho monstro direitista-conservador dos militares que eram contra os comunistas (coisa que ele não fala, obviamente). Esse monstro sempre tem que pegar uns choques para permanecer vivo no imaginário do povo brasileiro. Se ele morrer, quem será o grande vilão? Depois fala da inflação. Que antes as pessoas não podiam prever muita coisa, pois a inflação devorava os salários. Regina pergunta se ele imaginava que um dia o pobre da favela poderia ter TV de plasma e carro e ainda pede uma salva de palmas para o homem que acabou com a inflação. Acabou com a inflação? Até onde sei, FHC apenas domou a fera. Depois veio o Lula e com a gastança governamental, deu novo fôlego ao dragão. Inclusive, essa gastança do governo e com expansão de crédito, que ajudou a classe média a ter aquela TV de plasma financiada em dezoito vezes e o carro em sessenta, são os causadores da retomada da inflação que vem dando sintomas cada vez mais acentuados. De FHC até hoje, nada mudou na política econômica do Brasil. Continuou o sobe-desce da taxa de juros e investimento sólido (educação e infraestrutura) que é bom, nada. Sem falar que a capacidade de gasto das famílias brasileiras já chegou ao limite. Há pessoas por aí pedindo benção de cachorro.

Chega-se então ao assunto que realmente trouxe o ex-presidente ao programa global: a descriminalização das drogas. Fernando Henrique, que possui um documentário sobre isso, diz que a questão das drogas enfraquece a democracia, pois dá oportunidade aos traficantes de conduzirem um poder paralelo. É verdade. Enfraquece mesmo. Mas ele bem que poderia explicar quem são os grandes traficantes do Brasil e do mundo. Certamente não são figuras românticas que vivem em favelas, mas sim engravatados em arranha-céus. O ex-presidente diz que o modelo americano de combate às drogas falhou, não deu certo e que é preciso achar uma nova solução. Então, um caminho para isso seria, para ele, descriminalizar o uso das drogas, não tipificando o usuário como criminoso e sim dando a ele tratamento para largar o vício das drogas. Diz ainda que se o usuário for para a cadeia, usará mais drogas e ainda, de quebra, aprenderá a cometer delitos.

Pois bem, por partes. O modelo norte-americano não falhou, ele vem sendo empregado e é altamente repressivo com traficantes e usuários. A barreira é tão grande lá que um quilo de cocaína chega a custar 70 mil dólares. Mas há muitos fatores envolvendo esse comércio. Primeiro, os EUA sempre foram conhecidos como a terra das oportunidades. Achar que esse slogan irá atrair somente pessoas bem intencionadas é ingenuidade. Segundo, quem comanda a rede do tráfico de drogas, como já disse, são grandes tubarões que tem dedo na política. E terceiro, convenhamos, se os EUA quisessem acabar com o cartel de drogas da América Latina, já teriam feito isso há tempos. Se não acabasse, ao menos duros golpes teriam desferido. Soberania nacional é algo relativo. O Iraque que o diga.

Se o as drogas fossem liberadas e comercializadas pelo estado, quem nos garante que não haveria um mercado negro paralelo? Se assim fosse a lógica, ninguém compraria Nike made in China. O governo comercializando as drogas seria altamente burocrático. Pessoas com ficha suja seriam barradas. E iriam buscar a droga nas bocadas. Os já viciados não iriam à loja oficial, mas sim também iriam às bocadas. Sobrou o usuário regular e os iniciantes. Que legal! Vamos manter o povo dócil com as drogas e continuar a mandando. Oferecer ajuda pública aos viciados soa como uma piada, haja vista as condições da saúde básica no Brasil. O usuário sendo preso e indo para a cadeia e lá piorando o vício e/ou aprendendo outros delitos não é desculpa para descriminalizar as drogas. Se as pessoas saem piores do que entraram no sistema prisional, então o problema é o sistema prisional e não as drogas. No programa não foi citado por ninguém, mas sempre vejo comparações entre a maconha e a cerveja como ensejo para a legalização da planta. Os defensores da erva, dizendo que o álcool também é uma droga, só que legalizada. Sim, é uma droga mesmo. E nós, encantados com as propagandas com mulheres sensuais, não vemos a desgraça que o álcool faz a milhares de pessoas, lares e famílias. Brigas, mortes, divórcios, acidentes de trânsito. Incontáveis são os problemas gerados pelo álcool. Essa justificativa não serve.

No final, FHC completa: “Não é liberar. Não é legalizar. É tratar”. Não precisa liberar, nem legalizar. A oferta de drogas já é grande. O usuário irá comprar e usar. Se a polícia se deparar com um usuário em praça pública, nada poderá fazer. Apesar de saber que há uma forte conexão dele com o traficante. Ou seja, o usuário poderá manter o ganha-pão do traficante e continuar solto. Eis aí a ingenuidade (ou má fé) de quem acha que quem usa drogas não é criminoso.

Eis aqui o link dos 9:21 minutos da propaganda gratuita a favor da descriminalização das drogas disfarçada de entrevista “conscientizadora”.

O país dos revolucionários (e os distúrbios em São Paulo)

Brazil_comunistaJá há alguns dias as manifestações em São Paulo tomam conta dos noticiários. Quando isso acontece, ligo o alerta vermelho e procuro saber o que realmente está acontecendo, já que o é transmitido pela grande mídia sempre tem um viés distorcido. Estou longe de São Paulo, logo não uso o transporte público de lá, mas me sinto no direito de ter uma “opinião” sobre os acontecimentos, já que eles são transmitidos largamente pela imprensa. E como a imprensa me representa, então posso ter uma opinião sem aspas.

Para observar com um pouco mais de cuidados essas manifestações, é preciso levar em considerações algumas observações. Vamos lá, então.

Há tempos atrás houve a chamada Primavera Árabe, transmitida pela nossa imprensa como um movimento essencialmente popular que tinha (ou tem ainda) a intenção de tirar os ditadores do poder, exemplos famosos foram as quedas de Hosni Mubarak, no Egito, e Muammar al-Gaddafi, na Líbia. O que não foi noticiado (ou explicado) pelos nossos jornalistas (a maioria) é que não se tratava na verdade de um movimento genuinamente popular, mas sim de uma corrente política que visava a tomar o poder. Simplesmente isso. Como nesses países não havia democracia, naturalmente a turma política opositora cansou e teve vontade de tomar o poder.  A mesma coisa acontece nesses dias na Turquia, onde distúrbios nas ruas começaram aparentemente por conta de reformas urbanistas, mas que na verdade tem cunho político porque o primeiro ministro de lá, já está há dez anos no poder e quer emendar a constituição turca para ficar mais tempo. Quanto à Turquia, não afirmo nem nego se é ou não um movimento do povo ou de partidos opositores. Percebe-se então que as manifestações nesse países são para tirar os governantes do poder, porque de uma maneira ou de outra, desagradou a um determinado setor daquelas sociedades ou de todo o povo. Sigamos.

O povo naturalmente possui uma energia, e ela pode ser usada em várias coisas. No Brasil, ela é usada para torcer fanaticamente por times de futebol. Karl Marx dizia que essa energia (palavras minhas) deveria ser usada pelos trabalhadores para causar a revolução do proletariado, que tomaria o poder da burguesia. O projeto inicial de Marx falhou, visto que na Primeira Guerra Mundial os trabalhadores pegaram em armas para defender os patrões deles. Chegou-se a uma pergunta: O que nós, comunistas, fizemos de errado para que isso acontecesse? Antonio Gramsci, comunista italiano, oferece a proposta da revolução cultural, na qual o povo seria comunista e não se daria conta disso. Se há um país, cujo o cúmulo da revolução gramsciana aconteceu, esse país é o Brasil. Lembrando que não sou um especialista no assunto, sou apenas uma pessoa comum, buscando as respostas para vários porquês. Portanto, caso você sinta a mesma necessidade, pesquise por conta própria os fatos e não se deixe enganar pela mídia.

Parece-me que boa parte dos brasileiros (99,99% deles) não sabe ligar dois pontos em linha reta quanto o assunto é política. O que acontece em São Paulo é algo tipicamente do Brasil e poderia ser aplicado em qualquer outra capital. Nas últimas eleições municipais, os paulistanos escolheram polarizar o segundo turno entre dois candidatos socialistas, Fernando Haddad do PT e José Serra do PSDB. Um confronto com ideologias quase que integralmente iguais, mas com aparência de divergentes. A diferença entre PT e PSDB é que o primeiro ostenta a imagem guevarista de um revolucionário de gandola, coturna, barba por fazer e charuto na boca. O segundo seria um professor universitário que chega em um carro importado vestindo Armani.

Haddad venceu, mas mesmo que fosse Serra o eleito, haveria reajuste nas tarifas públicas de transporte. Isso sempre acontecerá. A medida de reajuste será regulada pela estabilidade da economia. E a economia é formada pelos governantes eleitos. São eles que decidem que rumo a economia deve tomar. E sabemos que o governo de São Paulo é socialista, do PSDB, e nossa presidência também é, com PT. Se a tarifa aumenta muito, descompassada com os salários, é porque a economia está sendo mal gerida.

Os manifestantes vão às ruas então protestar. Mas digamos que não sabemos que são essas pessoas. Demos a ela um crédito: que sejam homens e mulheres do povo que tem uma consciência política plenamente (ou quase) formada. Não é possível isso. As imagens dadas pela grande mídia (fotos 39, 40 e 54, aqui) não permitem tal feito. Em uma simples olhadela nas fotos é possível ver bandeiras vermelhas, leia-se, PSTU, PC do B e PSOL. Alto lá! Como isso é possível, se esse partidos de esquerda são adeptos da mesma mentalidade revolucionária de PT e PSDB? Como isso é possível, se nas eleições os vemos no mesmo palanque? Pois é, aí que a confusão ideológica socialista se mostra visível, mas somente para quem tem olhos interessados no assunto, nem precisa ter severa acuidade política. Mas infelizmente, a massa não percebe isso, pois além de estar entorpecida por tanta novela e futebol, possui ainda memória de peixe, ou seja, de três minutos. Achar realmente que política se resume apenas aos três meses de campanha eleitoral de cada eleição é de uma infantilidade colossal. Mas mesmo assim, dei mais um crédito ao movimento. Digamos que ele, novamente, é algo oriundo do povo insatisfeito com desmandos de várias espécies. Não dá. Quando vi esse vídeo (aqui), no momento 0:30 dele, e vi pichado no ônibus “Jovem comunista. Revolução”, resolvi escrever esse texto.

O movimento revolucionário, seja qual for a faceta dele, não tem fim. E diante de qualquer coisa, ele já pensa em ir às ruas e promover anarquia. Costumo pensar que um esquerdista, só de ver um amontoado de lixo, já fica alvoroçado. Retira de sua mochila revolucionária o kit revolucionário (pincel, cartolina e máscara do Guy Fawkes) e começa a gritar palavras gatilho como “fascista” ou “fundamentalista”. Quando vê o caminhão de lixo e percebe que é apenas a coleta do dia, fica decepcionado e xinga muito no Twitter e no Facebook. Antes, o combustível revolucionário era apenas a causa operária, era o que se tinha na época dos militares. Hoje é qualquer coisa: negros, índios, gays, mulheres, idosos, cadeirantes, abortistas, ateístas, maconheiros, defensores de ovos de tartaruga marinha e (!!!) revoltados com as tarifas de transporte público. O motor revolucionário brasileiro é flex, com tecnologia nacional patenteada. A citada revolução gramsciana é de tamanho sucesso no Brasil que está inserida, como dizia o falecido Éneas Carneiro, intracromossomialmente até no vocabulário do povo. Lembro-me durante os anos de escola que era normal eu e meus colegas falarmos em uma revolução disso ou daquilo. “Esse misto está vindo tão muxoxo, precisamos fazer uma revolução na cantina”. É natural ouvir as pessoas, insatisfeitas os com serviços públicos, dizerem que é preciso uma revolução na educação ou uma revolução na segurança pública. Nem o Flamengo escapa, precisando de uma revolução na gestão do time.

E quanto à polícia? Ora, a polícia é um órgão comandado pelo Estado. Dirigida pelo governador. Se o governador for bom, a polícia vai bem. Se ele for mal, a polícia vai mal. É simples. A polícia é o braço armado do Estado sim e é necessária, já que nem todos tem o coração santificado. Não adianta ser automatista e pensar que a polícia é fascista ou que integrará a polícia mundial da Nova Ordem Mundial. Se o governante for fascista, a polícia será fascista. Se o governante integrar a NOM, então a polícia também será parte dela. Com uma faca posso cozinhar, mas com a mesma faca posso matar alguém. No caso de São Paulo, percebo uma desproporção nas notícias. Ou melhor dizendo, uma demonização da polícia. Nesse instante, dia 14/06/2013 ao meio-dia, todos os grandes portais de notícia exibem manchetes e fotos de possíveis abusos da polícia paulista e os governantes, acuados pela imprensa, dizem que tomarão medidas cabíveis. Mas e quanto aos manifestantes? Pichações, depredações e tentativas de queima de ônibus, nada disso será apurado? Só a polícia merece essa atenção negativa da mídia? Que, pelo menos, ambos os lados sejam apurados. Só falta alguém dizer que os protestos eram pacíficos e que a polícia é quem começou tudo. Não foi eu papai, foi meu coleguinha.

Não há combustão sem queima. Não existe movimento socialista pacífico. É mais fácil achar uma linha reta na natureza do que isso. Para terminar, mostro esse vídeo (aqui) que evidencia a mentalidade romântica e fantasiosa de um revolucionário. Ele dá a um policial, uma granada com uma flor. Que lindo! Ele é revolucionário, mas é do bem. 

Em tempo: vocês perceberão que na série de fotos do link acima dado, os fotógrafos dão maior ênfase às ações da polícia. Em uma delas, uma jornalista é ferida no olho e diz que foi vítima de abuso de poder. Pergunta: como um policial vai diferenciar um baderneiro de um jornalista metido no meio da confusão? Abuso de poder realmente é condenável, mas um profissional desses deve ter em mente que se vai cobrir uma guerra, pode morrer.